Saúde desportiva, uma nova e promissora área de atuação para o farmacêutico

Dr. Rodrigo Abdala fará palestra sobre o tema, no primeiro dia do Congresso Brasileiro de Ciências Farmacêuticas, a ser realizado pelo CFF, em Foz do Iguaçu (PR), de 06 a 08.11.24

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A saúde desportiva é uma das mais novas e promissoras áreas de atuação para os farmacêuticos. A crescente necessidade que os atletas de alto rendimento têm de melhorar a sua performance, mantendo a saúde, demanda dos farmacêuticos um vasto número de serviços que vão da orientação sobre o uso de medicamentos às análises clínicas. O que mais fazem os farmacêuticos junto aos atletas e praticantes de atividades físicas? E como se qualificar para atuar no setor?

Quem responde é o Dr. Rodrigo Abdala, farmacêutico da equipe principal do Clube de Regatas do Flamengo, do Rio de Janeiro. Ele será um dos palestrantes, no primeiro dia do Congresso Brasileiro de Ciências Farmacêuticas, a ser realizado, pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), de seis a oito de novembro de 2024, em Foz do Iguaçu (PR).

“Acredito muito nessa nova área de atuação para nós, farmacêuticos. Podemos participar ativamente, no dia a dia de atletas e praticantes de atividade física, contribuindo, não só com a melhora da performance, mas também com a manutenção e busca constante pela saúde”, explica o farmacêutico Rodrigo Abdala.

QUEM É - Rodrigo Abdala é farmacêutico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diretor técnico da Farmácia Analítica, farmacêutico do Clube de Regatas do Flamengo, especialista em manipulação magistral alopática junto à Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag) e membro do American College of Sports Medicine (ACSM).

Dr. Abdala é, também, nutricionista, com certificação internacional em nutrição esportiva chancelada pelo ACSM. Possui MBA em gestão empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e 24 anos de experiência no setor magistral.

Numa breve conversa ao telefone, antes da entrevista, a “Comunicação do CFF” perguntou ao Dr. Abdala se havia uma demanda consolidade para ele, farmacêutico da equipe principal do Flamengo. Rodrigo Abdala respondeu que “está criando a demanda”. Ele acrescenta: “Eu fui contratado, em agosto de 2022, e, desde então, as atividades a serem desenvolvidas e as demandas foram sendo consolidadas e, hoje, já estão bem definidas”.

Ele acrescenta: “Hoje, sou responsável pelas análises bioquímicas e metabólicas dos atletas, não só realizando os testes, como também interpretando e fornecendo relatórios aos demais membros do departamento de saúde, para que auxiliem na tomada de decisão”. 

Muito do que se espera do farmacêutico que atua na saúde desportiva está em a sua atuação elevar o desempenho dos atletas, mas com segurança, o que demanda um grande universo de serviços prestados. Questões, como monitorar e aconselhar o desportista sobre o uso de medicamentos e suplementos alimentares, estão neste contexto.

Sobre estas questões, explica o farmacêutico: “Tudo isto faz parte do escopo de trabalho. Os atletas são aconselhados a não utilizarem nenhum tipo de medicamento ou suplemento sem o conhecimento dos profissionais de saúde do clube. Precisamos estar atentos a questões, não só relacionadas ao doping, mas também com as possíveis interações fármaco-fármaco e fármaco-nutriente que venham a existir. É nosso dever proteger o atleta quanto a isso, sabendo quais os medicamentos e suplementos que eles utilizam e alertando para os possíveis efeitos indesejados”, complementou Dr. Adbala.

 

Veja a entrevista completa com o farmacêutico Rodrigo Abdala. 

P – Jogadores de futebol fazem muito uso de medicamentos sem prescrição? Quais deles podem contêm substâncias que são acusadas no exame antidoping?

R - Hoje em dia, os atletas profissionais já têm a consciência de que não devem utilizar nada sem o conhecimento dos profissionais que o acompanham. Desde as categorias de base, eles são alertados quanto aos riscos. Medicamentos simples, como uma Neosaldina, pela presença do isometepteno (proibido em competição), ou um Tylenol Sinus, por conter pseudoefedrina na composição, podem gerar resultados analíticos adversos no exame antidoping.

 

P – Dr. Rodrigo, nos últimos cinco anos, temos visto atletas de alto rendimento renomados revelarem suas fragilidades na saúde. Só a título de exemplos, em 2021, a tenista japonesa Naomi Osaka, então, segunda do ranking feminino do mundo, anunciou que estava abandonando o torneio Roland Garros, na França,  para cuidar de sua saúde mental. Igual comportamento teve a ginasta norte-americana Simone Biles, que desistiu de participar de quatro finais nos Jogos de Tóquio, também, em 2021, pelo mesmo motivo. Só em 2024, tivemos as perdas, em campo, no Brasil, por problemas cardíacos, dos jogadores de futebol Juan Izquierdo, uruguaio de 27 anos, e Serginho, de 30 anos, do São Caetano (SP). Afonso Rossa, de 19 anos, estava quase entrando em campo, quando sofreu o mesmo. Como vocês, farmacêuticos, podem contribuir para evitar essas tragédias?

R - Os atletas são seres humanos. Não são máquinas e estão sendo submetidos constantemente a cargas altíssimas de estresse físico e psicológico. É uma cobrança muito grande, e eles precisam saber lidar com isso.

Os profissionais de saúde que atuam no esporte precisam estar atentos a essas questões, e utilizar ferramentas que possam auxiliar no monitoramento desses atletas. Ferramentas estas que vão, desde anéis que avaliam a qualidade do sono e recuperação, até as análises bioquímicas que fazemos, constantemente, para que possamos identificar possíveis alterações e corrigi-las, antes que a saúde do atleta seja colocada em risco.

 

P – Está entre as atividades dos farmacêuticos, também, gerenciar e prevenir lesões, além de atuar em primeiros socorros dos atletas?

R – Sim. Essas atividades fazem parte do dia a dia. Esportes, como o futebol, em que cada vez mais as demandas físicas vêm aumentado, ocorrerão lesões, principalmente, em calendários congestionados, como é o caso do Brasil, onde chegamos a ter apenas 66h de intervalo entre partidas. Por isso, a relevância de monitorar esses atletas e trabalhar ativamente na recuperação, não só na tentativa de minimizar as lesões, mas principalmente na manutenção da performance.

 

P – Como os farmacêuticos podem se especializar na área da saúde desportiva? Há cursos específicos oferecidos, no Brasil, para os profissionais?

R - Para ingressar nessa área, o profissional deve ter um conhecimento sólido em disciplinas básicas, como fisiologia e bioquímica. Esses conhecimentos nos permitem servir de elo entre os outros profissionais de saúde que compõem o departamento, como médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, preparadores físicos, enfermeiros e fisiologistas. Hoje, ainda não existem pós-graduações específicas sobre farmácia desportiva, mas acredito que, em breve, já teremos esta especialização.

 

P – Que importância o senhor vê em o Conselho Federal de Farmácia incluir, no Congresso Brasileiro de Ciências Farmacêuticas, a atividade do farmacêutico na saúde desportiva, por meio de uma palestra sua?

R - É de extrema relevância essa iniciativa do Conselho Federal de Farmácia. Fiquei muito feliz e honrado com o convite e com a possibilidade de expor aos colegas um pouco do meu trabalho no Flamengo, e que eu sirva de inspiração para que outros farmacêuticos se especializem e cada vez mais tenhamos colegas trabalhando na área.

Frequentemente, recebo mensagens de colegas querendo saber como atuar nessa área, além de o que eu faço, no dia a dia do clube. Oportunidades como essa (o Congresso de Ciências Farmacêuticas) são muito valiosas para atingir um número cada vez maior de farmacêuticos.