Anticoncepcional masculino: você usaria?
Produtos sem hormônio já estão em fase de testes e apresentam eficácia de até 99%
Atualmente, há apenas duas opções de contracepção voltada para os homens: a vasectomia e o uso de preservativos. Já para as mulheres, existe uma variedade incluindo diversas fórmulas de pílulas anticoncepcionais, dispositivos intrauterinos (DIU) e adesivos.
Um anticoncepcional masculino tem se destacado na comunidade científica por apresentar uma alternativa a outros métodos contraceptivos. Em 1979, o professor Sujoy Guha desenvolveu o Risug (Reversible Inhibition of Sperm Under Guidance), sigla em inglês para Inibição Reversível de Esperma sob Orientação.
Nos últimos 43 anos, o procedimento passou por testes clínicos bem-sucedidos, até atingir a fase-III, na qual sua eficácia está sendo estudada em milhares de pessoas. "Trata-se de um polímero, anidrido maleico de estireno, que aparentemente obstrui a passagem dos espermatozoides", explica o farmacêutico Daniel Jesus, especialista em pesquisa, desenvolvimento de novos fármacos e farmacologia.
Para afetar a fertilidade, o tratamento incide sobre os vasos deferentes, dupla de canais que transportam os espermatozoides para os testículos, onde eles se juntam aos líquidos que formam o sêmen. Daniel Jesus diz que polímero é dissolvido em um composto dimetilsulfóxido (DMSO) e inibe os espermatozoides com diferentes mecanismos. "Um parece que é obstrução mesmo física dos vasos, o outro é porque ele gera a alteração psicoquímica ali do ambiente além do pH – escala de acidez de uma solução aquosa – também há uma variação oxidativa dos vasos".
Recentemente, a empresa norte-americana YourChoice Therapeutics começou o primeiro ensaio clínico de fase I de sua pílula anticoncepcional masculina diária, que não contém hormônios. Até agora, as pílulas anticoncepcionais feitas para mulheres têm hormônios em sua composição e oferecem diversos efeitos colaterais, inclusive risco aumentado de desenvolver câncer de mama.
Os testes com o contraceptivo masculino foram realizados apenas em ratos de laboratório e apresentaram bons resultados. Agora, a pílula, conhecida como YCT-529, começou a ser testada em homens britânicos. Segundo a empresa, o ensaio clínico deve acontecer até meados de junho de 2024. Apesar de esta ser a primeira etapa de testes em humanos, ainda sem confirmação da eficácia do medicamento e nem previsão se e quando estará disponível para a população, os resultados iniciais mostram que há um novo caminho para garantir a contracepção.
Esta nova fórmula em pesquisa, se baseia no resultado de estudos anteriores sobre a deficiência de vitamina A no organismo e sua relação direta com a infertilidade. Isso porque o nutriente é necessário para a produção de esperma e a manutenção do sistema reprodutor masculino. Dessa forma, em vez de utilizar hormônios, a pílula YCT-529 age inibindo um receptor de ácido retinóico. Assim, ele bloqueia o acesso à vitamina A e impede a produção de espermatozoides.
De acordo com informações divulgadas no portal UOL, nos testes realizados em ratos de laboratório, a pílula masculina mostrou eficácia de 99% na prevenção da gravidez. Além disso, a infertilidade se mostrou 100% reversível: os animais se tornaram férteis novamente entre quatro e seis semanas após interromper o uso do medicamento. Também não houveram efeitos colaterais.
Um estudo publicado na revista Journal of Sex Research aponta que a quantidade de homens dispostos a tomar anticoncepcionais masculinos varia entre 34% a 82,3%.
E você, usaria?