Medicamentos para prolongar a vida de cães estão cada vez mais perto da realidade
Farmacêutica avalia o impacto de novas fórmulas que podem proporcionar alguns anos a mais aos cachorros
Os cachorros são os animais de estimação mais populares do mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), a estimativa é de que existam quase 900 milhões de cães no planeta e a Federação Cinológica Internacional (FCI) reconhece 344 raças. Companheiros leais, amorosos e divertidos, eles foram assumindo o papel de protagonistas nos lares, tornando-se até membros da família, com direito a sobrenome, plano de saúde e festas temáticas de aniversário. Além disso, os pets podem trazer muitos benefícios para a saúde física e mental de seus donos.
Contudo, a longevidade canina é uma das questões mais angustiantes para quem cria e cuida de um bichinho. O tempo de vida deles varia de acordo com a raça. Os cachorros de pequeno porte costumam viver mais que os de grande porte: em geral, os animais de pequeno porte podem viver de 12 a 18 anos, enquanto os cachorros de grande porte chegam a viver de 7 a 10 anos. E, mesmo com todos os cuidados e atenção veterinária oferecidos, ainda não é possível desfrutar da companhia deles por mais tempo.
Mas a boa notícia é que, nos últimos anos, cientistas têm buscado medicamentos que possam prolongar a vida dos cachorros. É isso mesmo! Em novembro de 2023, a empresa de biotecnologia Loyal anunciou que deu mais um passo para oferecer essa possibilidade. Um dos medicamentos mais promissores é o LOY-001, um implante de liberação prolongada que visa reduzir os níveis de IGF-1, um hormônio que está associado ao envelhecimento.
"Os dados fornecidos são suficientes para mostrar que há uma expectativa razoável de eficácia", afirmou um representante da FDA (agência reguladora de alimentos e remédios nos EUA) à empresa Loyal, em uma carta. Isso significa que o medicamento atendeu a um dos requisitos para "aprovação condicional ampliada", um tipo de autorização concedida a medicamentos veterinários voltados a necessidades de saúde ainda não atendidas e que exigem ensaios clínicos detalhados.
O medicamento ainda não está disponível para os donos de animais de estimação, e a FDA precisa revisar os dados de segurança e fabricação da empresa. No entanto, a Loyal espera receber a aprovação condicional em 2026, o que permitirá que a empresa passe a comercializá-lo mesmo antes da conclusão de um grande ensaio clínico. "Vamos buscar pelo menos um ano de extensão da vida saudável", disse Celine Halioua, fundadora e CEO da Loyal.
Para a farmacêutica da área veterinária Raquel Ottero, mesmo diante da falta de um fármaco específico que prolongue a vida de animais, o avanço de novas tecnologias e do cuidado animal fizeram com que a expectativa atual de vida tenha aumentado bastante quando confrontada com dados de anos anteriores.
A especialista em farmácia com manipulação veterinária acredita que a ética em torno da manipulação genética e da extensão da vida também é um aspecto crítico que os pesquisadores levam em consideração. "A pesquisa nesse campo está em andamento e novas descobertas continuam surgindo à medida que a compreensão sobre os mecanismos subjacentes ao envelhecimento melhora".
Raquel Ottero presta serviços para uma rede nacional de farmácia com manipulação veterinária e seu trabalho envolve desde a atenção farmacêutica aos tutores de pets até a coordenação e supervisão de equipes e laboratórios. Para ela, junto com essas descobertas, deve ser avaliado o surgimento de novos problemas senis e que é preciso, ainda, aliar o aumento da expectativa de vida com o controle de doenças para que os animais possam viver com qualidade.
"Vejo com entusiasmo o desenvolvimento de pesquisas para a produção de medicamentos capazes de prolongar a vida dos cães. Além disso, as descobertas em pesquisas com cães podem ter implicações não apenas para a saúde canina, mas também futuramente para a compreensão mais ampla do envelhecimento em seres humanos", observa a farmacêutica.
Se o medicamento realmente cumprirá essa promessa, não se sabe. Embora um pequeno estudo sugira que o LOY-001 possa atenuar as mudanças metabólicas associadas ao envelhecimento, a Loyal ainda não demonstrou que ele prolonga a vida dos cães.
Mas a carta recebida pela empresa, que veio após anos de discussão entre Loyal e FDA, sugere que a agência está aberta a medicamentos para longevidade canina, afirmou a fundadora da Loyal.
Outras pesquisas
Informações publicadas no jornal Folha de S. Paulo, no artigo "Cachorros poderão viver mais com uso de medicamento?" apontam que mais drogas do gênero estão em desenvolvimento. Uma equipe de pesquisadores está conduzindo um ensaio clínico canino de rapamicina, que mostrou prolongar a vida de camundongos em laboratório. E própria loyal está recrutando cães para um ensaio clínico de outro medicamento, o LOY-002.
Esses exemplos sinalizam o ritmo acelerado da ciência e a seriedade com que pesquisadores e reguladores estão tratando este tema, que antes parecia ficção científica.
Porém, ainda segundo o artigo, alguns especialistas estão preocupados com a forma como esse entusiasmo pode ser explorado, sobretudo se os medicamentos forem anunciados como fontes de juventude canina, enquanto questões de segurança e eficácia a longo prazo permanecem sem solução. Consideram-se, ainda, o questionamento de que os próprios cães não podem dar consentimento sobre o uso dessas fórmulas.
"Será que é do interesse deles viver um pouco mais quando há algum risco em tomar esses medicamentos?", disse Rebecca Walker, filósofa e bioeticista da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, que afirmou que não daria um medicamento de longevidade ao seu golden retriever. "Ou será que é realmente do melhor interesse dos donos, que são muito apegados a eles?", questionou.
O pior efeito colateral do LOY-001 tem sido desconforto gastrointestinal leve e temporário, segundo Halioua, embora ela tenha reconhecido que o critério de segurança seria "extremamente, alto".