Roleta Russa de Medicamentos: perigoso jogo de automedicação entre jovens viraliza em rede social
Especialistas e farmacêuticos alertam para os perigos desse comportamento irresponsável
Em um fenômeno alarmante que preocupa profissionais da saúde e educadores, jovens têm se envolvido em um perigoso jogo conhecido como a Roleta Russa de Medicamentos. O jogo arriscado se propaga nas redes sociais. Adolescentes, em sua maioria saudáveis, competem entre si para ver quem pode ingerir a maior quantidade de medicamentos sem passar mal.
Essa é uma forma muito perigosa de automedicação, que envolve uma grande variedade de medicamentos, em doses elevadas e sem qualquer supervisão. Os jovens que participam desse jogo buscam emoções extremas, colocando em risco sua saúde e até suas vidas. O resultado é quase sempre desastroso e trágico.
Em maio, na cidade de Ohio, EUA, um adolescente de 13 anos morreu de overdose, após participar de um desafio viral no TikTok. O jovem tomou mais de 14 comprimidos de um antialérgico como parte do Desafio Benadryl, que consiste em ingerir grandes quantidades do medicamento e filmar como o corpo reage.
Jacob Stevens estava acompanhado de um grupo de amigos, que começou a gravar assim que o menino tomou os remédios. Ao engolir as pílulas, seu corpo começou a se contrair. Segundo o site de notícias, Stevens foi levado para o hospital, onde ficou internado por seis dias, mas acabou tendo morte cerebral declarada pelos médicos. Sua família optou por desligar os aparelhos que o mantinham vivo.
O Conselho Federal de Farmácia (CFF) não encontrou registros de casos no Brasil. Mas os grupos fechados, exclusivos para adolescentes, têm proliferado em aplicativos de mensagens, o que pode tornar a prática ainda mais difícil de ser controlada. Especialistas e farmacêuticos alertam para os perigos desse comportamento irresponsável e destacam a necessidade de os pais se informarem sobre os riscos da automedicação e das redes sociais para seus filhos.
Walter Jorge João, presidente do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e conselheiro federal de Farmácia pelo estado do Pará, faz um apelo enfático para conscientizar os jovens. “O uso indiscriminado de medicamentos, por si só, pode levar a efeitos colaterais graves e interações medicamentosas perigosas. Mas, nesse caso, onde o objetivo é atingir o consumo em altíssimas quantidades, esses problemas são potencializados, assim como o risco de intoxicação e overdose. Em muitos casos, os jovens não estão cientes do quanto essa prática imprudente pode ser arriscada”.
O presidente do CFF alerta que os medicamentos historicamente constituem a principal causa de intoxicação no Brasil, batendo os agrotóxicos, os raticidas e até mesmo produtos de uso domiciliar. Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net), do Ministério da Saúde, apontam que eles foram responsáveis por 103.648 ou 58,3% dos 177.766 casos de intoxicação registrados no país em 2022. De todas as vítimas, 28,8 mil ou 27,85% eram adolescentes e jovens, com idades entre 10 e 19 anos.
Outro aspecto que envolve as intoxicações por medicamentos e merece destaque, segundo o presidente do CFF, representa uma verdadeira tragédia cotidiana. “Grande parte das intoxicações por medicamentos em todas as faixas etárias acontece ou por acidente ou por automedicação, mas em 73,9% dos casos, as vítimas se intoxicam em tentativas de suicídio. A estatística comprova a vulnerabilidade emocional das pessoas aliada ao uso indevido dos medicamentos, o que só reforça a preocupação com esse tipo de desafio.”. Walter Jorge João orienta que o armazenamento desnecessário de medicamentos em casa deve ser evitado e o que precisar ser guardado deve ser mantido longe do alcance de crianças e adolescentes.
Walter Jorge João destaca que a proliferação desses desafios nas redes sociais, como grupos fechados no Telegram, torna ainda mais difícil para os pais e cuidadores rastrearem o comportamento de seus filhos online. “As redes sociais têm o potencial de amplificar a pressão dos pares e normalizar comportamentos arriscados, como a Roleta Russa de Medicamentos” ressalta.
Para o presidente do CFF é extremamente importante os pais estarem atentos às atividades online de seus filhos e dialogarem sobre os perigos da automedicação. Ele também destaca a necessidade de educar os jovens sobre o uso responsável de medicamentos e a importância de procurar orientação quando necessário. "É fundamental que os pais estejam informados sobre as atividades online de seus filhos e conversem abertamente sobre os perigos da automedicação. Os jovens precisam entender que os medicamentos não são brinquedo e que seu uso inadequado pode ter consequências graves para a saúde", alerta o farmacêutico.
A sociedade como um todo deve se unir para combater essa tendência perigosa e proteger a saúde e o bem-estar de nossos jovens. A conscientização, a educação e o diálogo aberto são ferramentas vitais nessa luta contra o uso irracional e sem responsabilidade de medicamentos e outros desafios perigosos nas redes sociais. É crucial que pais, educadores e profissionais de saúde trabalhem juntos para garantir um ambiente seguro e saudável as crianças e adolescentes.