A cada 3 minutos, uma pessoa é internada por falhas na atenção primária à saúde

Falhas na atenção primária resultam em mais de 1,6 milhão de internações no SUS em 2024

Image description

Um estudo da Umane, organização voltada à promoção da saúde, revela um dado preocupante: a cada três minutos, uma pessoa é internada no Brasil por condições que poderiam ter sido evitadas com uma atenção primária mais eficiente. A análise, baseada em dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH-SUS) disponíveis no Observatório da Saúde Pública, aponta que cerca de 1,6 milhão de internações registradas em 2024 no Sistema Único de Saúde (SUS) estavam relacionadas a doenças que já tinham sido diagnosticadas, como diabetes tipo 2, hipertensão, asma e deficiências nutricionais.

A Atenção Primária à Saúde (APS), considerada porta de entrada do SUS, é essencial para identificar, monitorar e tratar doenças antes que evoluam para quadros mais graves. Ela envolve desde consultas em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) até ações de prevenção, visitas domiciliares e programas de educação em saúde.

Segundo Thais Junqueira, superintendente geral da Umane, o Brasil ainda enfrenta grandes desafios nessa área. “Temos uma atenção primária frágil, pouco resolutiva e carente de recursos. Uma estrutura bem organizada poderia resolver até 90% dos problemas de saúde ao longo da vida de uma pessoa”, afirma, com base em dados da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

O levantamento mostra que as chamadas internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (CSAP) corresponderam a 11% do total de hospitalizações em 2024 — um universo de 14,1 milhões de casos. A taxa dessas internações foi de 793,8 por 100 mil habitantes, evidenciando a necessidade urgente de reforçar políticas de prevenção.

As principais causas das hospitalizações evitáveis foram doenças crônicas como diabetes tipo 2, doenças cerebrovasculares e pneumonias bacterianas em crianças pequenas. A maior parte dos casos ocorreu entre pessoas com 65 anos ou mais, seguidas pela faixa etária de 55 a 64 anos e por crianças de até 4 anos.

A desigualdade racial também ficou evidente: pessoas pardas lideraram o número de internações evitáveis, somando 945,3 mil casos, seguidas por pessoas brancas, com 563,2 mil. Para Junqueira, esse dado reforça a relação entre desigualdade social e acesso à saúde. “Os indicadores de saúde da população preta e parda são historicamente piores. É reflexo direto do acesso desigual aos serviços”, explica.

Ela defende um investimento mais robusto na saúde preventiva e destaca o papel das equipes de saúde da família e agentes comunitários. Também ressalta a importância do vínculo entre unidades de saúde e os territórios onde atuam. “Conhecer a realidade local permite planejar ações mais eficazes e facilitar o acesso da população.”

A Umane tem apoiado projetos como as Redes de Atenção à Saúde (RAS), em parceria com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), para melhorar a integração e o fluxo de atendimento no SUS. A proposta é garantir um cuidado mais contínuo, eficaz e com menor custo ao sistema público.