Farmacêuticos alertam: consumo e casos de intoxicações da droga K9 estão crescendo no País
Farmacêuticos explicam composição e ação da droga no organismo
O consumo das drogas da família “K”, também denominadas popularmente como “K2, K4, K9 ou spice”, vem sendo conhecido por produzir efeitos agudos no Sistema Nervoso Central e produzir, principalmente, manifestações clínicas compatíveis com distonia aguda, catatonia e rebaixamento do nível de consciência, efeitos esses que são erroneamente chamados de "efeito zumbi". A denominação vem da forma como alguém que consumiu a droga K fica entorpecida, completamente fora da realidade, inclusive com perda de sentidos.
Segundo o farmacêutico José Roberto Santin, do Grupo de Trabalho sobre Toxicologia do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e presidente Sociedade Brasileira de Toxicologia (SBTox), estes canabinoides sintéticos atuam nos receptores de canabinoides tipo CB1 no cérebro e podem causar alucinações, paranoia, ansiedade, taquicardia e convulsões, agindo de forma aguda no organismo. "Dependendo da quantidade e associação com outras substâncias psicoativas, o usuário pode desenvolver efeitos indesejáveis graves, podendo, inclusive, levar a morte", alerta.
A apreensão e o consumo dessas drogas estão crescendo no Brasil. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, o número de intoxicações possivelmente relacionadas à substância, foi de 98 usuários ao longo do ano de 2022. Até outubro de 2023, foram registrados 464 casos suspeitos de intoxicação por canabinoides sintéticos na capital paulista. Em relação ao número de apreensões, segundo os dados da Polícia Civil de São Paulo, em 2022 foram 11,6 kg enquanto que, em 2023, já foram contabilizados 113,5 kg de drogas “K” apreendidos.
O Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) também compartilha dos mesmos achados. Em 2023, já atendeu e confirmou laboratorialmente 12 casos de intoxicação aguda onde o agente tóxico principal eram diferentes tipos de canabinóides sintéticos associados a outras substâncias psicoativas. Quem aponta os dados é o farmacêutico Rafael Lanaro, também membro GT sobre Toxicologia do CFF, diretor da SBTox e responsável técnico pelo CIATox da UNICAMP. Segundo ele, o mesmo centro registrou apenas dois casos confirmados entre 2018 e 2022.
Um dos principais motivos para o aumento do consumo pode estar relacionado ao preço de comercialização, pois a K9 é mais barata do que outras drogas de abuso como o crack e a maconha. Outro motivo é relacionado as diferentes formas de apresentação disponíveis, o que facilita o tráfico e comercialização.
"Dentre as formas apreendidas e reportadas na literatura foram encontradas em “blotters” (semelhante ao LSD), solução, o qual é borrifada em papel, em outras drogas e, principalmente, em componentes herbais que apresentam aspecto semelhante ao da maconha, motivo esse faz com que sejam erroneamente chamadas de 'maconha sintética'", explica Rafael Lanaro.
José Roberto Santin afirma que o uso do termo "maconha sintética" já foi reportado pela Sociedade Brasileira de Toxicologia (SBTox) como um problema. Ele diz que um dos principais motivos, além da semelhança de forma de apresentação com a maconha, está no fato de atuarem no mesmo receptor que o Delta-9-THC (princípio psicoativo da maconha), só que com uma potência muito maior.
"Nessas drogas, embora o canabinoide sintético feito em laboratório se ligue ao mesmo receptor do cérebro que a maconha, a sua potência pode ser até 100 vezes maior. Então, é um dos fatores de risco de maior preocupação na atualidade, e pode causar danos irreversíveis ao cérebro e ao coração", explica o farmacêutico José Roberto Santin, do Grupo de Trabalho sobre toxicologia do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e presidente da SBTox.