Estudo sugere que semaglutida pode elevar risco de doença que pode causar cegueira
Em resposta à agência Reuters, a Novo Nordisk, fabricante do Ozempic e do Wegovy, destacou várias limitações do estudo, que não foi um ensaio clínico randomizado
Cientistas identificaram pela primeira vez que pacientes que utilizam semaglutida para tratar diabetes ou perder peso podem apresentar um risco aumentado de desenvolver uma condição ocular rara em comparação com aqueles que não usam o medicamento.
O estudo publicado na revista científica "JAMA Ophthalmology", não prova uma relação de causa e efeito, o que significa que outras explicações plausíveis para a associação com a neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NOIA-NA), uma condição que afeta o suprimento sanguíneo no nervo óptico, não estão descartadas.
Os pesquisadores afirmam que o objetivo principal do estudo é incentivar mais debates médicos sobre o possível risco do uso dessa substância, que é encontrada em injetáveis para obesidade e diabetes tipo 2, como Ozempic e Wegovy.
Apesar de ser uma condição rara, a NOIA-NA é a segunda principal causa de cegueira do nervo óptico, ficando atrás apenas do glaucoma.
"O uso desses medicamentos [com semaglutida] aumentou significativamente em países industrializados e proporcionou benefícios importantes de várias maneiras. No entanto, futuras discussões entre pacientes e seus médicos devem considerar a NOIA-NA como um risco potencial", afirmou o médico e autor do estudo Joseph Rizzo, diretor do Serviço de Neuro-Oftalmologia do hospital especializado Mass. Eye and Ear.
Em resposta à agência Reuters, a Novo Nordisk, fabricante do Ozempic e do Wegovy, destacou várias limitações do estudo, que não foi um ensaio clínico randomizado (detalhes sobre as limitações da pesquisa são discutidos mais abaixo).
"No geral, os dados publicados no estudo não são suficientes para estabelecer uma associação causal entre o uso de agonistas do receptor GLP-1 e a NOIA-NA", disse a farmacêutica dinamarquesa, acrescentando que a condição "não é uma reação adversa ao medicamento para as formulações comercializadas de semaglutida."
Como a pesquisa foi feita
No estudo, descobriu-se que pessoas com diabetes que receberam a prescrição de semaglutida eram mais de quatro vezes mais propensas a serem diagnosticadas com a condição rara. Já aqueles com sobrepeso ou obesidade e prescritos com o medicamento eram mais de sete vezes mais propensos a receber o diagnóstico.
Os pesquisadores, no entanto, ainda NÃO sabem por que ou como essa associação existe, e por que houve uma diferença relatada nos grupos diabéticos e com sobrepeso.
Para realizar o estudo, os pesquisadores analisaram os registros de mais de 17 mil pacientes do Mass Eye and Ear tratados nos seis anos desde o lançamento do Ozempic em 2017 e os dividiram entre aqueles que foram diagnosticados com diabetes ou sobrepeso e obesidade.
Assim, eles compararam pacientes que receberam prescrições de semaglutida com aqueles que tomavam outros medicamentos para diabetes ou perda de peso.
O estudo observacional de 36 meses envolveu 710 adultos com diabetes tipo 2 e 979 tomando medicamentos para perda de peso.
Em seguida, analisaram a taxa de diagnósticos de NOIA-NA nos grupos, revelando aumentos significativos no risco.
A taxa do problema ocular foi de 8,9% para aqueles que tomavam semaglutida para diabetes tipo 2, em comparação com 1,8% para pacientes que usavam medicamentos para diabetes que não são análogo ao GLP-1.
Entre os pacientes que receberam prescrição de semaglutida para excesso de peso ou obesidade, a taxa de NOIA-NA foi de 6,7%, em comparação com 0,8% para aqueles que usavam outros tipos de medicamentos para redução de peso.
Limitações do estudo
Além de não provar causalidade e da incerteza sobre o motivo da associação com a condição rara de perda ocular, os pesquisadores também destacaram várias limitações na pesquisa.
Uma das suas principais restrições está no fato de que o Mass. Eye and Ear, localizado em em Boston, nos Estados Unidos, vê um número incomumente alto de pessoas com doenças de visão raras, uma tendência que pode inferir nos resultados da pesquisa, que inclusive observou um pequeno número de casos de NOIA-NA.
Além disso, os pesquisadores também não conseguiram verificar se os pacientes observados aderiram consistentemente ao tratamento com semaglutida ou se interromperam o uso em algum momento, o que poderia ter afetado seu risco.