Indígena da comunidade Pataxó é aprovada no vestibular para a Faculdade de Farmácia, na UFBA

A estudante Aiyra Pataxó recebe o apoio da comunidade e está ansiosa para iniciar o curso em Salvador

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Aiyra Pataxó, de 20 anos, concluiu o ensino médio no Colégio Estadual Indígena de Coroa Vermelha. No último processo seletivo, por meio da nota obtida no Enem, a jovem foi aprovada no vestibular para a Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A aldeia Pataxó, onde Aiyra cresceu e vive, fica no litoral da Bahia, próximo a Porto Seguro, e passou por um processo doloroso de urbanização. "Foi onde tivemos o primeiro contato com os não indígenas. Tivemos vários massacres após isso, pela sobrevivência, foi necessário adormecer a nossa língua, o Patxôhã", lamenta. 

No entanto, Aiyra descreve que, atualmente, os indígenas locais têm à disposição escolas como esta, onde os saberes indígenas de cada comunidade são valorizados diariamente e é dado um foco na preservação das raízes do povo. "... após muito sofrimento, fizemos o resgate do Patxôhã e ele é trabalhado nas escolas hoje em dia. Hoje, participo de um grupo cultural chamado Mayõ upã Pakhê, um grupo de jovens que se fortalecem na cultura, sempre vamos em busca do que os nossos antepassados praticavam/ faziam". 

A futura farmacêutica já quis fazer Medicina, mas, com o tempo, após concluir um curso na área de estética, começou a se identificar mais com o curso de Farmácia. "Quero unir o conhecimento 'do branco' com os conhecimentos tradicionais do meu povo e trabalhar em cima disso na minha área", projeta. E, sobre ser aprovada no vestibular, ela afirma não ter sido muito difícil e confessa até que achou tranquilo. "Eu estou tão feliz que você não tem ideia! Toda vez que saio na rua alguém da comunidade me parabeniza".

Apesar da ansiedade de mudar para a Salvador para iniciar a faculdade na UFBA, Aiyra não passou toda a sua infância na aldeia e já morou no Distrito Federal, quando menor. "Minha família é artesã e minha mãe professora. Então, sempre viajei com eles para a venda de artesanatos. Durante o estudo da minha mãe, moramos em Brasília um tempo. Mesmo que eu já conheça Salvador não consigo ainda me ver morando lá, acostumei com a aldeia (rsrs), mas entendo a importância de estar lá então irei deixar a aldeia, me formar e voltar pra poder trabalhar na minha base". Aiyra continua: - Em Salvador tem outros parentes do meu povo e da minha aldeia, acredito que isso vai permitir que me sinta um pouco mais em casa, além do apoio que já foi oferecido.

Vida de estudante

Os estudantes do Colégio Estadual Indígena de Coroa Vermelha têm a oportunidade de participar de jogos estudantis e tradicionais e de várias outras atividades. Como integrante da comunidade Pataxó, Aiyra se demonstra bem ativista. "Além do grupo cultural, participo de alguns coletivos dentro da comunidade, tem o Coletivo Arewá que sou presidente, Sarã Pataxó que é um coletivo de jovens mulheres Pataxó, Tv Pataxó é uma página de informação que temos onde sou comunicadora, assim também como o  MUPOIBA (um movimento dos povos indígenas da Bahia).  Trabalhamos nesses coletivos buscando sempre a melhoria para nossas comunidades Pataxó, realizando projetos e capacitações".

A jovem relata que teve uma fase de aprendizado um pouco difícil, em que não conseguia frequentar as aulas, mas, com o apoio dos professores, ela se formou e conquistou pontuação para ingressar na faculdade. "Inclusive, eu acredito que eu ter conseguido me formar tenha sido por conta da escola porque, há um tempo, eu estava tendo muita crise de ansiedade, muita mesmo, e eu cheguei a me afastar da escola por dois anos. Eu não estava suportando. E o colégio indígena foi fundamental para isso, pois os professores me entendiam, me ajudavam quando precisava, se percebessem que eu precisava de mais tempo para concluir uma atividade, vissem que a ansiedade estava me atacando, eles davam mais tempo. Eles literalmente me acolheram e fizeram de tudo para que eu concluísse o ensino médio", agradece.

Assim como Aiyra, outros estudantes indígenas irão se mudar para Salvador ainda em 2023 para prosseguir os estudos. O Conselho Federal de Farmácia parabeniza a todos e deseja boa sorte a jovem Aiyra Pataxó.