Reino Unido mira modelo brasileiro de agentes de saúde para revitalizar o NHS

Projeto-piloto em Londres inspirado no SUS pretende descentralizar atendimento e priorizar prevenção; plano nacional deve ser anunciado em junho

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O governo britânico está estudando adaptar ao sistema de saúde do Reino Unido a experiência brasileira dos agentes comunitários de saúde, iniciativa que integra a Estratégia Saúde da Família (ESF) do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo reportagem do jornal The Telegraph, publicada na última segunda-feira (7), a medida faz parte de um esforço para evitar o colapso do National Health Service (NHS), serviço público de saúde britânico que enfrenta filas recordes e dificuldades de acesso a médicos.

Um projeto-piloto baseado no modelo brasileiro já está em teste no bairro de Pimlico, em Londres, e deve ser expandido para 25 regiões da Inglaterra nos próximos meses. A estratégia britânica, conforme o jornal, visa reduzir a pressão sobre hospitais ao levar atendimento básico e preventivo para comunidades, seguindo os passos do Brasil, onde agentes locais atuam há décadas em áreas vulneráveis, realizando visitas domiciliares e monitorando indicadores como vacinação e pré-natal.

The Telegraph destacou que o programa brasileiro trouxe "avanços significativos" em saúde pública, como a redução da mortalidade infantil e o aumento da expectativa de vida em regiões carentes. O interesse do Partido Trabalhista, que assumiu o poder em julho de 2024, surgiu meses após a vitória eleitoral, quando representantes do NHS viajaram ao Rio de Janeiro para firmar um acordo de cooperação com o Brasil.

O ministro da Saúde britânico, Wes Streeting, tem reforçado a necessidade de modernizar o NHS, apontando a falta de acesso a médicos como um dos principais desafios. Em preparação para um plano decenal a ser divulgado em junho, ele convidou especialistas brasileiros para compartilhar conhecimentos sobre a ESF. A proposta inclui mudanças como priorizar a prevenção de doenças e transferir recursos de hospitais para unidades comunitárias.

Crise e inspiração internacional
A reportagem questiona se o "projeto radical das favelas brasileiras" pode resgatar o NHS, que enfrenta greves de profissionais e orçamento enxuto. Enquanto o sistema britânico depende historicamente de hospitais como porta de entrada, o SUS brasileiro — apesar de subfinanciado — é citado como exemplo de capilaridade, com mais de 270 mil agentes comunitários atuando em território nacional.

Especialistas ouvidos pelo Telegraph ressaltam, porém, que o sucesso da adaptação dependerá de investimentos em treinamento e infraestrutura. "Não basta replicar o modelo sem considerar diferenças culturais e estruturais", alertou um pesquisador. Se a estratégia avançar, o Reino Unido poderá se tornar o primeiro país europeu a adotar em larga escala um sistema inspirado no SUS — ironicamente, em um momento em que o Brasil debate os próprios desafios de financiamento e gestão na saúde pública.