Especialistas alertam para o uso excessivo de medicamentos no tratamento do TDAH
Pesquisa revelou ainda um uso generalizado de metilfenidato, um dos principais medicamentos usados no tratamento do TDAH
Segundo dados da Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), cerca de 2 milhões de pessoas sofrem com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) no Brasil. O aumento dos casos levantou várias dúvidas sobre as razões por trás desse crescimento, com algumas pessoas questionando até a própria existência da condição ou sua banalização.
Anaísa Leal Barbosa Abrahão, doutora em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, explica que o TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento, caracterizado por níveis prejudiciais de desatenção, desorganização, hiperatividade e impulsividade, afetando diversas áreas da vida. Segundo a especialista, seu início é geralmente na infância, mas pode persistir até a vida adulta.
“Ainda não existe um consenso definitivo sobre a origem do TDAH”, afirma Anaísa.
A especialista também se preocupa com a banalização do diagnóstico do TDAH e alerta para falsos positivos: ”realizamos uma pesquisa na USP em 2022 e, ao avaliarmos 43 crianças com diagnóstico médico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, apenas três preencheram os critérios para TDAH ao serem submetidas a escalas específicas”.
A pesquisa de Anaísa revelou ainda um uso generalizado de metilfenidato, um dos principais medicamentos usados no tratamento do TDAH. Dos 43 participantes, a maioria fazia uso desse medicamento, sem apresentar melhorias significativas nos sintomas principais do transtorno ou nos problemas de comportamento relatados por familiares e professores.
Para Gustavo Pires, conselheiro federal de Farmácia pelo Paraná e secretário-geral do Conselho Federal de Farmácia (CFF), a banalização do uso dos medicamentos para quaisquer tipos de diagnósticos é um risco para a sociedade. "Nós, profissionais de saúde, precisamos ser instrumentos de informação constante sobre os riscos da automedicação e da banalização dos medicamentos. O uso indiscriminado e sem orientação pode ser fatal", alerta Gustavo.
Gustavo esclarece que o problema da medicalização é coletivo, social, político, econômico e cultural. "Quando se tem uma criança que não lê, não escreve e não presta atenção, não se questiona a escola que está sendo oferecida a ela, mas se considera que é ela quem não está tendo a atenção necessária e que isso seria uma patologia. É importante que essa criança ou adolescente tenha acesso a uma equipe multidisciplinar, com diversos tipos de profissionais, para que o diagnóstico e o tratamento correto sejam oferecidos sem riscos", enfatiza.
O CFF está em constante campanha pelo uso racional de medicamentos e pela saúde pública de qualidade.