Farmacêuticos criam projeto envolvendo sistema prisional para reciclagem de canetas de insulinas

O grupo de pesquisa do Laboratório de Bioquímica Clínica da UFS desenvolveu uma estratégia para reduzir a quantidade de resíduos provocados pelas canetas descartáveis

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O diabetes mellitus é uma síndrome metabólica crônica que afeta cerca de 94 mil sergipanos que convivem com a doença e fazem uso de medicamentos hipoglicemiantes ou canetas de insulina análoga. Para alguns desses sergipanos, o tratamento se dá pela distribuição das canetas de insulina pelo Centro de Atenção à Saúde de Sergipe (CASE). Somente no ano de 2017, o CASE distribuiu cerca de 124 mil canetas de insulina aos seus pacientes. Esse método para controle glicêmico está acessível à população sergipana, mas como as canetas são descartáveis, aumentam significativamente a quantidade de resíduos sólidos e biológicos que seriam descartados. Em contrapartida, o Estado de Sergipe possui um sistema prisional caracterizado pela superlotação e reincidência criminal. 

Portanto, projetos educativos e profissionalizantes para a capacitação de detentos são fundamentais para a ressocialização. Por esse motivo, foi desenvolvido um plano sustentável de teor socioambiental que se fundamenta na reutilização de canetas de insulina usadas para a produção de canetas esferográficas, que serão vendidas, e todo o recurso arrecadado será usado para adquirir insumos que faltam aos pacientes com diabetes atendidos no CASE. A produção das canetas esferográficas é resultado do cooperativismo entre pessoas privadas de liberdade e duas unidades prisionais de regime fechado e semiaberto do Estado. No que se refere aos participantes, o projeto gera impactos sociais positivos com a manutenção da saúde mental de detentos, na educação para o trabalho e reinserção social. Esse projeto obteve resultados qualitativos positivos e teve como diferencial a atuação de farmacêuticos e de estudantes do curso de Farmácia, com um olhar sustentável e transformador para esses problemas sociais.

O grupo de pesquisa do Laboratório de Bioquímica Clínica da UFS desenvolveu uma estratégia para reduzir a quantidade de resíduos provocados pelas canetas descartáveis e melhorar a consciência ambiental dos usuários, objetivando transformar canetas de insulina em canetas esferográficas. Com a venda destas, a ideia é obter fundos para a compra de agulhas para canetas de insulina e distribuí-las aos pacientes que participam das consultas farmacêuticas no Centro de Atenção à Saúde de Sergipe, visto que, nessas consultas, os pacientes são orientados à utilização unitária das agulhas em cada aplicação, visando cumprir as normas estabelecidas pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD, 2022).

O processo de confecção das canetas é desenvolvido tanto por estudantes de iniciação científica como por indivíduos privados de liberdade. A participação da parcela social que se encontra em cárcere se fez necessária porque a arte e o artesanato são apresentados como uma forma de ressocialização e humanização dos internos, além da capacitação e confecção proporcionarem, a essas pessoas, o benefício da remissão de pena de um dia para cada três trabalhados. Partiu-se do pressuposto que a arte- -educação, dentro da penitenciária, proporciona o crescimento educacional, em fase de integração social, e melhoria da saúde mental das pessoas privadas de liberdade.

As canetas de insulina dos pacientes atendidos pelos farmacêuticos foram recicladas e, assim, reutilizadas de forma diferente e sustentável. Essa iniciativa, de solucionar e gerir uma nova função para algo que iria findar em um problema de custo maior para o sistema público de saúde, visa tanto a promoção do uso correto, pois os pacientes são instruídos a utilizar a caneta de insulina da maneira correta, como, também, a importância de reciclar algo que iria gerar lixo, visando, também, a inclusão social de pessoas privadas de liberdade em projetos como este, sendo muito importante para a sua ressocialização.

Este relato é um dos 16 selecionados pelo GT sobre Saúde Publica do CFF e está na 8ª edição da revista Experiências Exitosas de Farmacêuticos no SUS do Conselho Federal de Farmácia (CFF). O lançamento desta aguardada edição, após quase dois anos de pausa, será no XXXVII Congresso Nacional das Secretarias Municipais de Saúde, realizado pelo parceiro do CFF, Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), marcado para os dias 16, 17, 18 e 19 de julho, na capital de Goiás, Goiânia.