Estudo revela o reposicionamento da metformina para dores de cabeça aguda e crônica

Testes realizados em ratos e camundongos machos e fêmeas mostraram efeito em ambos os sexos, mas o efeito do fármaco para dor crônica foi melhor nas fêmeas

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Um estudo pré-clínico, realizado no Núcleo de Biologia Experimental da Universidade Federal de Fortaleza (Unifor), em camundongos e ratos, observou diferenças no efeito da metformina para dores crônicas na face de animais do sexo masculino e feminino. Os resultados foram recentemente divulgados em artigo científico publicado no periódico internacional Springer. O trabalho faz parte da tese de doutorado em Biotecnologia da farmacêutica Sacha Aubrey Alves Rodrigues Santos, sobre reposicionamento de fármaco.

Sacha Aubrey estudou efeitos da metformina, que é utilizada para o diabetes tipo 2, no tratamento da dor orofacial ou dor de cabeça, dos dentes, na articulação temporomandibular e na face. “Observamos a diferença desses efeitos em indivíduos machos e fêmeas e estudo forneceu novas descobertas de que a metformina reduziu a dor aguda em machos e fêmeas e, na dor crônica, o medicamento teve um resultado melhor nas fêmeas”. 

A dor orofacial afeta mais de 25% da população mundial e, geralmente, é mais frequente em mulheres. “Mais mulheres do que homens procuram tratamento para dor orofacial, indicando que as mulheres sofrem de uma condição patológica mais séria de dor orofacial do que os homens”, comparou a pesquisadora.

Além disso, Sacha Aubrey pontua que a metformina está em uso clínico há décadas para o tratamento de diabetes tipo 2, o que significa que os efeitos colaterais, interações medicamentosas e segurança em humanos já estão bem documentados. “Isso reduz a necessidade de estudos extensivos de toxicidade e segurança, acelerando o processo de aprovação para uma nova indicação, como o tratamento da dor orofacial”, explicou.

Essas descobertas pré-clínicas apontam para um potencial reposicionamento da metformina como um agente analgésico em estados de dor orofacial aguda e crônica.

Reposicionamento de fármacos

O reposicionamento de fármacos é uma estratégia na pesquisa farmacêutica que busca descobrir novos usos terapêuticos para medicamentos já aprovados e em uso clínico. Como os medicamentos reposicionados já têm dados de segurança e eficácia conhecidos em humanos, isso pode acelerar a aprovação regulatória do medicamento para um novo uso.

Do ponto de vista econômico, Sacha Aubrey explica que a inserção de um novo medicamento no mercado possui custos muito elevados, o que levou a indústria farmacêutica a utilizar o reposicionamento de fármacos. “Essa estratégia possibilita que a nova terapia esteja disponível em menos tempo e a um menor custo para os serviços de saúde e para o paciente”.

Além de esses medicamentos poderem ganhar aprovação em menos da metade do tempo, o reposicionamento permite que sejam aprovados a 1/4 do custo. Em média, para uma nova droga ser lançada no mercado, leva de 12 a 16 anos e isso tem um custo aproximado de 1 a 2 bilhões de dólares. Já com o reposicionamento, esse tempo cai para seis anos, a um custo muito inferior, no valor de 300 milhões”, detalhou Sacha Aubrey.

Também participaram do estudo e assinam o artigo, os pesquisadores Marina de Barros Mamede Vidal Damasceno, Barry John Sessle, Antônio Eufrásio Vieira-Neto, Gerlânia de Oliveira Leite, Francisco Ernani Alves Magalhães, Kaio César Simiano Tavares, Samara Casemiro Benevides e Adriana Rolim Campos.

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