Onda de assaltos a farmácias: criminosos miram canetas de Ozempic e outros emagrecedores
Com a explosão da demanda e preços elevados, medicamentos para perda de peso se tornam alvo de quadrilhas, levando farmácias a reforçar a segurança
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De acordo com reportagem do Estadão, farmácias em São Paulo têm enfrentado uma onda de roubos de medicamentos para emagrecimento, como Ozempic, Wegovy e Saxenda, em meio à alta demanda por esses produtos em um país onde a obesidade avança, mas a pressão por padrões corporais é intensa. Os criminosos visam especialmente os medicamentos refrigerados, conhecidos como "medicamentos da geladeira", que chegam a custar entre R$ 700 e R$ 1.100 por caixa, com cada unidade representando um suprimento mensal.
Segundo o Estadão, dados do Departamento de Investigações Criminais do Estado de São Paulo revelam que os roubos desses medicamentos dispararam: de apenas um registro em 2022, saltaram para 18 casos em 2023 e 39 em 2024. Os números podem ser subnotificados, já que metade dos boletins de ocorrência não detalham quais medicamentos foram levados. A Anvisa registrou o roubo ou perda de 4.770 canetas de Ozempic em 2023 e 8.220 em 2024.
O delegado Pedro Ivo Corrêa dos Santos destacou que as farmácias são alvos vulneráveis, muitas vezes operando 24 horas com geladeiras desprotegidas. A escalada de crimes levou estabelecimentos a reforçar a segurança com seguranças armados e a reduzir estoques. Algumas redes chegam a esconder os medicamentos em depósitos blindados, enquanto farmácias independentes optam por não estocá-los. "Quem tem Ozempic não consegue trabalhar em paz", afirmou Wilson Martins, gerente de uma farmácia na zona oeste paulistana.
O fenômeno reflete a explosão nas vendas desses medicamentos no Brasil, impulsionada por uma combinação de obsessão por imagem corporal e aumento da obesidade — que afeta 24% dos adultos nas grandes cidades, segundo o Ministério da Saúde. Celebridades como Luiza Possi, Wesley Safadão e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que afirmou ter usado Ozempic para perder 30 kg, amplificaram a demanda.
A reportagem do Estadão ressalta ainda que o alto preço dos medicamentos (as vendas de Ozempic no país passaram de US$ 27,5 milhões em 2019 para US$ 621,6 milhões em 2023 alimentou um mercado paralelo, com quadrilhas especializadas roubando até caminhões de carga. "A onda de furtos começou quando as redes sociais começaram a falar abertamente sobre o medicamento", explicou Renata Gonçalves, presidente de um sindicato de farmacêuticos. Enquanto isso, o temor persiste entre funcionários, obrigados a conviver com a ameaça de novos assaltos.