Atendimento farmacêutico no tratamento paliativo de pacientes é tema de tese de mestrado na USP

Pesquisa de Lincoln Marques reafirma a importância da presença de um profissional da Farmácia na equipe de atendimento

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Melhorar a qualidade de vida das pessoas é uma das funções primordiais dos profissionais da área da saúde. Pensando nisso, o farmacêutico Lincoln Marques, egresso da Universidade Federal de Sergipe e atual mestrando do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (FCFRP/USP), elegeu como tema de sua tese o impacto do cuidado farmacêutico no atendimento a pacientes em cuidados paliativos no Hospital Estadual de Ribeirão Preto (SP).

O trabalho de Lincoln Marques, sob orientação da professora Drª Fabiana Rossi Varallo, revelou que o cuidado paliativo traz mais conforto a alguns pacientes de câncer, por exemplo, do que o tratamento apenas com quimioterápicos. Além disso, o estudo reafirmou a importância do farmacêutico no atendimento e acompanhamento dessas pessoas. "A conclusão é de que, quando o farmacêutico integra a equipe de paliativos logo na entrada do paciente no hospital, o tempo de internação pode ser diminuído.  O farmacêutico avalia as prescrições, integra a equipe de atendimento, e a pessoa pode ter sua internação reduzida", garante. 

No estudo, o pesquisador analisou o atendimento aos pacientes durante todo o período em que estavam internados no hospital. Segundo ele, intervir na prescrição, indicando medicamentos que não deveriam ser usados e, também, no modelo de tratamento foi uma das ações com mais efeitos positivos. "A gente conseguiu, por exemplo, reduzir o número de medicamentos inapropriados para idosos, que é a lista de medicamentos que não deve ser utilizada em certa faixa etária, mas que eles (os médicos) acabavam prescrevendo por diversos motivos". 

O especialista explica que o farmacêutico faz uma análise de tudo o que é receitado e pede para o médico substituir, ou até retirar da prescrição, certos medicamentos para facilitar a utilização por parte do paciente. "Teve outro caso que foi sobre a complexidade da farmacoterapia, ou seja, às vezes o paciente pode utilizar um medicamento de seis em seis horas, uma solução, um injetável, sendo muito complicado para o paciente lembrar de todas as doses, lembrar de como administrar. Então, quanto mais medicamentos injetáveis ou mais horários para tomar, mais complexa é aquela prescrição. E o meu estudo revelou que o farmacêutico integrado à equipe ajudou a reduzir esta complexidade", afirma. 

Lincoln lembra, ainda, o histórico da farmácia clínica: “Há cem anos, o farmacêutico atuava nas comunidades fazendo os medicamentos na hora. Na segunda guerra mundial, surgiu a necessidade de se fazer medicamentos em escala industrial. E o profissional de farmácia, que manipulava as fórmulas e dava a solução para as doenças, foi perdendo esse status. Me sinto muito grato por atuar em Ribeirão Preto/SP e conto essa história com muito orgulho, pois sabemos da importância da divulgação das pesquisas das universidades e o trabalho que o farmacêutico pode desempenhar.”

Farmácia clínica 

O conceito de farmácia clínica surgiu a partir dos anos de 1960, nos Estados Unidos. No Brasil, no final dos anos de 1970, em Natal, capital do Rio Grande do Norte, quando o professor Tarcísio José Palhano, então estudante de farmácia, desenvolveu os parâmetros da farmácia clínica a partir de uma pesquisa semelhando à do Lincoln, em um projeto de mestrado. Como campo de atuação e como apoio ao paciente, a farmácia clínica é, ainda, uma área em desenvolvimento. 

"Fiz uma especialização em Sergipe, no formato de residência multiprofissional, e durante o programa, tive contato com o tema de cuidados paliativos. Devido a escassez desse cenário no estado, levei a ideia de um projeto em impacto do farmacêutico em pacientes com doenças que ameaçam a continuidade da vida para a USP em Ribeirão Preto", detalha Lincoln. Lá, foi onde o farmacêutico teve a oportunidade de atuar clinicamente e desenvolver um estudo no hospital estadual. "Hoje, me encontro na reta final do mestrado e o estudo realizado recebeu a premiação de melhor trabalho do Workshop de Pós-Graduação da FCFRP/USP, em setembro de 2022, sendo também apresentado no maior congresso de farmacovigilância do mundo, o 21st Annual Meeting of the International Society of Pharmacovigilance, que aconteceu na cidade de Verona, na Itália, também em setembro".

Os pais de Lincoln têm uma farmácia em Aracaju, Sergipe. Dos irmãos, ele foi o único que optou por uma carreira que pudesse dar sobrevida ao negócio da família. Mas ele nunca quis ficar no balcão. Na universidade, ele não passou nem uma semana no laboratório experimental: quando teve contato com pesquisa com animais, resolveu mudar para a farmácia clínica.