Riscos da automedicação e a importância da assistência farmacêutica são discutidos na Câmara

Debate deve ser usado como subsídio para embasar trabalhos legislativos sobre os temas

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Os impactos da automedicação e a importância da assistência farmacêutica foram discutidos na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (17). A audiência, solicitada e conduzida pela deputada e farmacêutica Alice Portugal (PCdoB-BA), contou com a participação de entidades como o Conselho Federal de Farmácia (CFF), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ministério da Saúde, Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar), Associação Brasileira de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) e do pesquisador Norberto Rech.

Representando o CFF, a coordenadora do Grupo de Trabalho de Farmacoterapia e Prescrição, Walleri Reis, apresentou os números referentes à automedicação no País, que é o 5º maior mercado de medicamentos do mundo. Ela citou pesquisa recente do ICTQ/Datafolha, que revela que mais de 90% dos brasileiros se automedicam, principalmente pela falta de acesso a consultas no Sistema Único de Saúde (SUS). A média de espera por atendimento no Brasil é de 57 dias, chegando a mais de 150 dias no Distrito Federal.

"É importante esclarecer que, quando se recorre a um medicamento isso é feito com a intenção de que ele faça bem à saúde, ou seja, é no contexto de melhorar algum agravo, melhorar algum sinal e sintoma. Porém, não podemos esquecer que, mesmo os medicamentos de venda livre estão associados a riscos importantes à saúde", esclareceu Walleri. Entre os pacientes assistidos pelo SUS, 59% já experimentou alguma forma de dano provocado por medicamentos e quase 15% dos atendimentos de emergência está relacionado a esse tipo de situação. 

Outro dado surpreendente é que no SUS a cada 1 real gasto de medicamento, 5 são gastos no atendimento de pessoas que sofreram danos dessas formulações, considerando que 53% desses danos são considerados evitáveis. Ou seja, o custo médio para tratar cada paciente que sofreu alguma consequência relacionada é de aproximadamente R$ 2.200. 

Para diminuir a ocorrência de problemas relacionados ao uso de medicamentos no Brasil, Walleri Reis apontou a necessidade de promover a atuação clínica do farmacêutico e fomentar a presença destes profissionais nas equipes de saúde. Inclusive, ressaltou o aumento da oferta de serviços clínicos em consultórios farmacêuticos, implementados em mais de 12 mil estabelecimentos, alcançando 1.479 municípios. 

"É fundamental migrar de um modelo passivo de distribuição de medicamentos para um modelo proativo de cuidado farmacêutico. Quando pensamos em assistência farmacêutica, isso está relacionado a todo o processo que envolve o medicamento. Mas esse processo não acaba com o produto em si, pois as pessoas podem ter problemas no uso dessas substâncias, se não forem devidamente orientadas. Temos que ter em mente que, além desse ciclo clássico de assistência farmacêutica, somos profissionais que permeiam pelo ciclo clínico", explica.

Para Alice Portugal, o farmacêutico pode contribuir muito na promoção do uso racional de medicamentos. "Entende-se que o profissional farmacêutico tem o papel fundamental na orientação e conscientização da população por ser um agente de saúde de fácil acesso, principalmente nas atividades realizadas nas farmácias e drogarias. Conforme o CFF ressalta, a atenção farmacêutica consiste em um conjunto de práticas realizadas pelo farmacêutico, visando à orientação do paciente quanto ao uso correto de medicamentos e essa prática é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um serviço indispensável na relação paciente/medicamento", afirma a parlamentar.

O coordenador-geral de Assistência Farmacêutica e Medicamentos Estratégicos do Ministério da Saúde, Luiz Henrique Costa, diz que a automedicação responsável deve ser um debate constante na sociedade, inclusive com relação a autonomia do indivíduo. Porém, a possibilidade de uma orientação racional, acompanhada pelo farmacêutico, deve-se sempre ser reforçada. "Nós defendemos a presença do farmacêutico nas equipes da Estratégia de Saúde da Família. Mais de 1700 profissionais já foram incorporados. Mas o orçamento do Ministério é insuficiente e nós precisamos de mais financiamento para oferecer serviços farmacêuticos de forma mais ampla", afirmou. 

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