Cuidado farmacêutico garante acesso ao tratamento de pacientes com asma em Porto Alegre

Maiores problemas estavam associados às crianças terem grande dificuldade de utilizar os dispositivos inalatórios

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A partir de um monitoramento feito, em 2021, dos pacientes que passaram por internações por problemas de saúde relacionados à asma, os gestores de saúde da cidade de Porto Alegre (RS) realizaram um monitoramento, no qual, verificou-se que 48% dessas pessoas nunca retiraram medicamentos indicados a essa doença junto à atenção primária à saúde. E mais, 37% dessas mesmas pessoas que estiveram internadas, não tiveram nenhuma consulta de atenção primária após 30 dias. A experiência foi apresentada pelo farmacêutico Leonel Almeida, na 18ª Mostra Nacional Brasil aqui tem SUS, durante o XXXVI Conasems, que ocorre em Goiânia, de 16 a 19 de julho.

A equipe de saúde buscou entender o que aconteceu, ao logo do tempo, e qual foi a trajetória daqueles internados na rede de atenção à saúde. Com o cruzamento dos dados, a equipe identificou que a maior prevalência dessas internações era de crianças menores de seis anos de idade. “A partir disso, a gente identificou que um dos maiores problemas estava associado ao fato de as crianças terem grande dificuldade de sincronizar o acionamento do dispositivo e, efetivamente, fazer a inspiração e a técnica inalatória correta. E que os espaçadores são uma estratégia tecnológica de fundamental impacto para a redução de internações nessa unidade específica”, explicou Leonel Almeida. 

A partir dessa constatação, a Secretaria de Saúde de Porto Alegre colocou a asma numa linha de cuidado prioritária, definindo que os farmacêuticos iriam realizar o atendimento dessas crianças, menores de seis anos de idade, e que nesta consulta farmacêutica o profissional iria orientar crianças e familiares sobre a técnica correta e de que maneira os cuidadores poderiam fazer a preparação do espaçador. “Nessas consultas podemos explicar sobre a necessidade da preparação do espaçador e, também, entender o contexto da família dessa criança. Já que, em geral, a criança acaba não sendo colocada no papel de protagonista diante da sua própria doença. Então, o farmacêutico pode, nessa consulta, tratar das principais questões que envolvem o controle da doença”, acrescentou o palestrante. 

Com isso, a equipe multiprofissional de saúde fez um processo de implementação do novo protocolo de atendimento, no qual, primeiramente, todos os farmacêuticos da atenção primária e das farmácias distritais foram capacitados. “Graças ao Conselho Federal de Farmácia, foi trazido um especialista em atendimento em asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), o farmacêutico Hágabo Mathyell, que foi até Porto Alegre e capacitou todos os 42 farmacêuticos há época, divididos em dias turmas de 22. Hoje, somos mais de 60 no município”, detalha Leonel. 

Nessa capacitação, o representante do CFF abordou a parte teórica, a protocolização dos tratamentos e fez atendimentos simulados entre os farmacêuticos com casos clínicos semelhantes aos encontrados na atenção primária, com o treinamento de qual conduta o profissional deve ter diante desses diferentes pacientes. 

Em maio de 2023, esses atendimentos foram normatizados para toda a rede de atenção da capital do Rio Grande do Sul. Também foi definida como seria a organização do tempo do farmacêutico, que foi dividido em proporções específicas da carga horária dele para o atendimento referenciado ou programado, para os atendimentos de demanda espontânea, para atendimento a toda a gestão logística e dispensação de medicamento e, também, para as consultas agendadas. 

Tudo isso numa proporção de racionalidade que permitiu o farmacêutico dividir o seu tempo e, principalmente, dar acesso à população aos atendimentos com o farmacêutico. As agendas dessas consultas foram abertas à população e as novas ações foram divulgadas por todas as unidades de saúde que passaram a encaminhar os pacientes atendidos para o farmacêutico, para que este profissional possa dar andamento ao acompanhamento farmacoterapêutico. 

Numa linha de prioridades, as unidades de saúde relatam, em prontuário eletrônico, os seus atendimentos, com a indicação do que aquela criança precisa, classifica ela quanto ao grau de controle e a elenca para uma agenda específica com o farmacêutico. “Para além disso, também há encaminhamentos por demanda espontânea, que o próprio farmacêutico pode captar para esse atendimento, durante a dispensação de medicamentos. A partir disso, produziu-se vídeos instrucionais para toda a rede de atenção e para a população, pensando em envolver toda a cadeia familiar participante do cuidado a essa criança”. 

Também foi desenvolvida uma plataforma educacional na qual se disponibilizou um curso de aperfeiçoamento contínuo para profissionais que serve, também, de preparatório para os farmacêuticos que ingressam na rede de atenção à saúde de Porto Alegre.