Farmacêutico garante o uso racional de medicamentos durante a gestação

Evitar a automedicação, controlar sintomas e prevenir malformações são práticas essenciais para preservar a saúde da gestante e do feto

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As profundas alterações fisiológicas na gestante, como o aumento no volume sanguíneo e da massa corporal, impactam a farmacocinética dos medicamentos. Essas e outras mudanças influenciam diretamente a absorção, distribuição, metabolismo e excreção dos fármacos, o que exige que o farmacêutico ajuste as dosagens e selecione terapias de menor risco, a fim de garantir a eficácia e a segurança no tratamento da gestante e do feto.

No Brasil, um dos maiores riscos é a hipertensão gestacional, primeira maior causa de morte materna. Quem explica a questão da segurança no uso de medicamentos nesse contexto é a farmacêutica Gabrielli Paré Guglielmi. "As alterações fisiológicas durante a gestação, como náuseas, vômitos, dores e hipertensão, podem levar a gestante a buscar alívio rápido, muitas vezes, por meio da automedicação. Esse hábito expõe mãe e feto a riscos graves, porque alguns compostos possuem potenciais teratogênicos ou efeitos tóxicos que podem levar a malformações e prejudicar o desenvolvimento fetal", alerta.

A especialista lembra que, para mitigar esses riscos, o farmacêutico desempenha um papel crucial, ao educar a gestante sobre os perigos da automedicação, orientando-a sobre as opções seguras e adequadas para aliviar sintomas comuns da gravidez. "O farmacêutico é responsável por revisar e monitorar todas as terapias medicamentosas prescritas, para garantir a segurança e a eficácia durante esse período", afirma.  

É importante ressaltar que alguns medicamentos são totalmente contra indicados na gestação devido ao alto risco de causar malformações e outras complicações fetais. "Alguns exemplos são a isotretinoína, que pode levar a malformações congênitas severas; e inibidores da ECA, que podem causar insuficiência renal fetal, deformidades ósseas e morte fetal. Outros como os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), quando usados no terceiro trimestre, podem prejudicar a função renal do feto e aumentar o risco de fechamento prematuro do ducto arterioso", pontua. 

 

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A farmacêutica Gabrielli Paré Guglielmi

 

Sobre o uso de chás, Gabrielli Guglielmi reforça que deve ser feito com extrema cautela, pois algumas ervas possuem compostos bioativos que podem atravessar a placenta e causar efeitos adversos ao feto e à mãe. "Por exemplo, chás como o de canela, sene e boldo contêm substâncias que podem induzir contrações uterinas, aumentando o risco de aborto ou parto prematuro".

Dentre outras várias ocupações, Gabrielli Guglielmi já atuou como coordenadora da farmácia do Hospital Mãe de Deus, de Porto Alegre (RS) e como professora de cursos de pós-graduação em farmácia hospitalar, farmácia clínica e gestão em saúde do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo (SP). Ela também integra a Comissão Científica Permanente do Conselho Federal de Farmácia (CFF).

No início de novembro, a profissional foi uma das palestrantes no III Congresso Brasileiro de Ciências Farmacêuticas, realizado pelo CFF entre os dias 6 a 8, em Foz do Iguaçu (PR), com o tema “Segurança do paciente em crianças, gestantes, lactantes e idosos”.