OMS publica diretriz sobre recomendações sobre uso de adoçantes

Farmacêutico esclarece como eles agem no organismo

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Há muitos anos, os adoçantes vêm sendo utilizados para ajudar no processo perda ou manutenção do peso, além de controlar a glicemia. Mas, de acordo com uma nova diretriz lançada nesta segunda-feira (15/05) pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso de adoçantes artificiais no longo prazo pode trazer prejuízos à saúde, como o desenvolvimento do diabetes tipo 2 e de doenças cardiovasculares. Alguns dos mais conhecidos são aspartame, ciclamato, estévia, acessulfame potássico, sucralose, sacarina, taumatina, xilitol, maltitol e eritritol.

Farmacêutico Leandro Medeiros

O farmacêutico, professor e pesquisador Leandro Medeiros, que coordena a Liga Acadêmica de Fitoterapia Médica da Universidade Católica de Pernambuco e é membro do GT sobre Suplementos Alimentares do Conselho Federal de Farmácia (CFF), explica que apesar de não impactarem na quantidade de calorias que ingerimos, todos os adoçantes sem açúcar são não nutritivos, ou seja, não conferem propriedades nutricionais ao organismo. 

Leandro explica que os adoçantes não nutritivos e o açúcar diferem em sua composição química. O açúcar comum, também conhecido como sacarose, é um carboidrato composto por glicose e frutose. Ele contém calorias e fornece energia ao corpo. Por outro lado, os adoçantes não nutritivos são substâncias projetadas para fornecer sabor doce, mas com poucas ou nenhuma caloria. Cada um deles possui uma estrutura química distinta.

Os adoçantes não nutritivos são geralmente muito mais doces que o açúcar, por isso é necessária uma quantidade menor para obter o mesmo nível de doçura. Como eles são metabolizados de forma diferente no corpo, geralmente não afetam os níveis de açúcar no sangue ou contribuem para calorias significativas.

De acordo com o pesquisador, essas substâncias podem ser absorvidas a partir do transporte intermediado por proteínas presentes na membrana de células de nosso intestino. “Muitas delas dependem de uma reação de hidrólise, como é o caso do aspartame, que é ‘quebrado ao meio’ por enzimas intestinais, para a absorção dos compostos derivados: fenilalanina e ácido aspártico”. 

Mas o farmacêutico destaca algumas teorias que buscam explicar danos como o diabetes e doenças cardiovasculares, não necessariamente relacionados à absorção deles, mas pela provável interação dessas substâncias com bactérias e fungos que habitam o nosso intestino e que compõem o que chamamos de ‘microbiota’, a qual possui um papel importante no equilíbrio de nossas funções digestivas, imunológicas, neurológicas e cardiovasculares. 

“Sabemos que a dieta pode interferir sobre como essas bactérias e fungos funcionam e se multiplicam. Dietas ricas em fibras podem ajudar na proliferação delas, gerando mecanismos protetores ao nosso corpo. Mas ao que tudo indica, os adoçantes não nutritivos parecem atrapalhar suas funções”, afirma Leandro Medeiros.  

A respeito da recomendação, a OMS afirma que os adoçantes não nutritivos não devem usados como forma de controlar o peso ou reduzir o risco de doenças não transmissíveis. Estudos com duração de mais de 10 anos acompanhamento, mesmo que possuam um grau de certeza baixa a muito baixa, apontaram que:

• Ingestões mais altas de adoçantes não nutritivos foram associadas ao aumento de risco para ganho de peso e obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, câncer de bexiga e mortalidade;

• Especificamente em gestantes, foi observado risco aumentado para asma, alergias e impacto negativo sobre funções cognitivas nas crianças nascidas;

• Estes achados se dão também pelo consumo de alimentos e bebidas que já contêm adoçantes, como refrigerantes zero açúcar. Porém, não se aplica a medicamentos e produtos de higiene pessoal e cosméticos, pois estes possuem níveis de exposição menores do que alimentos e bebidas; 

• Substituir os açúcares livres na dieta (como sacarose, xaropes de glicose) por fontes de doçura natural, como frutas, bem como alimentos e bebidas sem açúcar minimamente processados, ajudará a melhorar a qualidade da dieta e deve ser a alternativa preferida aos alimentos e bebidas que contêm açúcares livres, em qualquer grupo populacional.

No documento, a OMS recomendações pela não utilização de adoçantes para a população geral, exceto para pessoas que já têm diabetes, pois neste grupo o uso de adoçantes está associado a melhor controle da glicemia. A análise e decisão pelo uso devem ser feitos de forma individualizada, com suporte de um profissional de saúde, que leve em consideração as características individuais e o potencial risco-benefício no seu uso.


Ainda que pairem incertezas sobre estes estudos que fundamentaram as recomendações da OMS, a decisão por utilizar ou não deve ser feita especialmente com orientação de profissional de saúde, a partir da análise de risco-benefício.