SUS tem registrado relatos de pessoas que buscam atendimento para “bebês reborn”
Bebês Reborn no SUS: entre o lúdico e a urgência em Saúde Mental

Em um enredo que parece misturar ficção e realidade, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem registrado atendimentos inusitados: pessoas que buscam serviços médicos para bonecas hiper-realistas conhecidas como "bebês reborn". A prática, impulsionada por vídeos virais nas redes sociais, despertou preocupação nas autoridades e provocou a apresentação de projetos de lei no Congresso Nacional que visam proibir o uso de serviços de saúde para simulações, além de oferecer acolhimento psicológico a quem desenvolve vínculos afetivos intensos com os bonecos.
A fronteira entre o lúdico e o psicológico
O caso de uma mulher em Minas Gerais que procurou atendimento hospitalar alegando que seu bebê reborn estava com febre reacendeu o debate sobre o uso indevido de recursos públicos. Em resposta, o deputado Cristiano Caporezzo (PL-MG) propôs um projeto de lei que estabelece multas de até dez vezes o custo do atendimento prestado, com destinação dos valores arrecadados a programas de saúde mental.
Apesar de os reborns serem vistos por muitos como objetos artísticos ou instrumentos terapêuticos, especialistas alertam para os riscos emocionais envolvidos. “Embora esses objetos possam ter usos legítimos, como em contextos de terapia, o vínculo exagerado pode sinalizar sofrimento psíquico significativo”, afirma a deputada Rosângela Moro (União-SP), autora de proposta que prevê acolhimento psicossocial para essas pessoas no SUS.
Legislação em debate: Onde termina o brinquedo?
Três projetos de lei em tramitação na Câmara dos Deputados buscam conter o que parlamentares classificam como “abusos”:
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Proibição de atendimento médico a bonecos em unidades de saúde públicas e privadas, com sanções a profissionais que realizarem tais procedimentos.
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Aplicação de multas para quem tentar utilizar reborns para obter benefícios como prioridade em filas ou descontos — valores que variam entre R$ 7,5 mil e R$ 30,3 mil.
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Ampliação de políticas de saúde mental, integrando esse atendimento à Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), com escuta especializada e apoio às famílias.
Para os defensores da medida, o objetivo é evitar o desvio de recursos públicos e garantir que o atendimento chegue a quem realmente necessita. “Simular cuidados médicos com objetos inanimados onera o sistema e desrespeita a lógica de eficiência do SUS”, afirma o deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP).
Profissionais da saúde na linha de frente
A discussão, no entanto, ultrapassa os limites legais. Psicólogos defendem que o foco deve ser compreender o sofrimento que se manifesta por trás do vínculo com os bonecos. “A boneca não é o problema, mas o que ela representa emocionalmente. Precisamos olhar com empatia para a dor por trás do gesto”, avalia Mariana Costa, psicóloga que já acompanhou pacientes com esse perfil.
Profissionais da atenção básica, como farmacêuticos e enfermeiros, também desempenham papel essencial nesse processo. Muitas vezes, são os primeiros a notar mudanças de comportamento que podem indicar sofrimento psíquico. Um relato inesperado ou uma compra recorrente pode ser um sinal de alerta. A escuta empática é, muitas vezes, o início do cuidado.
O SUS como porta de entrada para o cuidado
A proposta da deputada Rosângela Moro aposta em ações que combinem fiscalização com acolhimento. O texto prevê parcerias com universidades e centros de pesquisa para compreender melhor o fenômeno e desenvolver estratégias baseadas em evidências. Paralelamente, familiares e amigos são orientados a evitar o julgamento e buscar apoio profissional. “Oferecer terapia pode ser o ponto de virada para quem está em sofrimento”, reforça Mariana Costa.
Conclusão: a dor por prás do silicone
O crescimento da comunidade de entusiastas dos bebês reborn aponta para uma sociedade em busca de consolo em tempos de solidão, perda e insegurança emocional. Diante disso, é preciso equilíbrio: coibir o uso indevido do SUS, sim, mas também expandir o cuidado em saúde mental. Como resume Ana Lúcia, farmacêutica com 15 anos de atuação no serviço público: “Muitas vezes, o remédio mais poderoso é aquele que o SUS oferece com humanidade: escuta, empatia e acolhimento”.