Antiviral para mpox não reduziu sintomas da variante mais perigosa, diz análise

Tecovirimat, utilizado para o tratamento da mpox, é seguro e bem tolerado, mas não reduziu a duração das lesões causadas pela doença em crianças e adultos infectados com o clado 1 do vírus

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Uma análise preliminar de um estudo clínico revelou que o antiviral tecovirimat, utilizado para o tratamento da mpox, não reduziu a duração das lesões em crianças e adultos infectados com o clado 1 — a variante mais letal, responsável pelo atual surto na República Democrática do Congo (RDC). Esses resultados iniciais foram divulgados em um comunicado de imprensa pelos National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos na quinta-feira (15).

“Esses resultados são decepcionantes, mas fornecem informações cruciais e destacam a necessidade de identificar outros candidatos terapêuticos para a mpox, ao mesmo tempo em que continuamos a pesquisa sobre o uso de tecovirimat em outras populações afetadas pela doença”, afirmou Jeanne Marrazzo, diretora do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID), em comunicado do NIH. “Continuamos comprometidos em desenvolver intervenções seguras e eficazes, incluindo tratamentos e vacinas, que possam aliviar o pesado fardo da mpox na África Central e combater a forma mais branda do vírus que circula globalmente”, acrescentou.

As análises iniciais recentemente divulgadas fazem parte do estudo PALM007, lançado em outubro de 2022 pelo NIAID e pelo Institut National de Recherche Biomédicale (INRB) da RDC. O objetivo do estudo é avaliar a eficácia e a segurança do tecovirimat no tratamento de mpox em adultos e crianças. Foram inscritos 597 participantes com diagnóstico laboratorial confirmado de mpox em dois locais na RDC.

O que é o tecovirimat?

O antiviral tecovirimat foi inicialmente desenvolvido para tratar a varíola comum, mas, em 2022, foi licenciado pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para o tratamento da mpox, com base em dados de estudos realizados em animais e humanos. No mesmo ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou, em caráter excepcional e temporário, a dispensa do registro do medicamento importado pelo Ministério da Saúde, devido ao surto que atingiu o Brasil.

Atualmente, o Ministério da Saúde informa que não existe um tratamento específico para a mpox. As orientações focam em medidas de suporte clínico, como o manejo da dor e do prurido, cuidados de higiene das áreas afetadas e a manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico. Clique aqui para mais informações.

Em estudos com animais, o tecovirimat demonstrou reduzir a probabilidade de morte por infecções causadas por ortopoxvírus, como o vírus da mpox, quando administrado no início da doença. Em humanos, uma série de casos, incluindo um paciente tratado com tecovirimat, sugeriu que o medicamento pode encurtar a duração da doença e reduzir a disseminação viral. Esses resultados foram publicados na revista científica The Lancet em 2022.

De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, o tecovirimat pode ser considerado para o tratamento de pessoas com mpox em casos graves, como lesões hemorrágicas, grandes lesões coalescentes, sepse, encefalite e outras condições que exigem hospitalização. O uso do antiviral também pode ser indicado para indivíduos com uma ou mais complicações, como infecção bacteriana secundária, gastroenterite com náuseas e vômitos graves, diarreia ou desidratação, ou outras comorbidades. A OMS recomenda que o uso do tecovirimat seja monitorado em um contexto de pesquisa clínica, com coleta de dados prospectivos.