Estudo de farmacêutico revela presença de corticoides em poeira doméstica
Felipe Vidal divulgou o resultado do estudo inédito em artigo publicado no portal ScienceDirect

Como parte de seu trabalho de doutorado em toxicologia ambiental pela Masaryk University, o farmacêutico Felipe Vidal estudou vários efeitos hormonais associados a poluentes encontrados em poeira doméstica. Durante a pesquisa, encontrou uma amostra de poeira que provoca efeitos glicocorticoides. Glicocorticoides são hormônios que agem em receptores amplamente distribuídos pelo corpo e desempenham um papel importante na regulação de vários processos, incluindo metabolismo, função cardiovascular, desenvolvimento pulmonar, metabolismo ósseo, resposta imune, neurodesenvolvimento e cognição.
Como observar este tipo de efeito em poeira não é comum, Felipe Vidal foi para o Centro Helmholtz de Pesquisas Ambientais na Alemanha, para se aprofundar no tema e descobrir o motivo deste efeito ocorrer de maneira tão potente nas amostras de poeira. "Lá descobrimos que os poluentes eram, na verdade, medicamentos (propionato de clobetasol e furoato de mometasona). Com isso, percebemos que medicamentos usados por pessoas no ambiente doméstico poderiam se misturar à poeira e potencialmente exercer efeitos nos outros ocupantes da casa", explica.
O resultado revela, primeira vez, que medicamentos são fontes de poluição doméstica e, por isso, o pesquisador defende a importância da ampla divulgação do estudo, especialmente entre os farmacêuticos. "Isso é uma prova de que temos que ter cuidados não só ao tomar medicamentos mas também na hora de prepará-los em casa para evitar a exposição de pessoas vulneráveis como crianças, idosos, etc. Imagine que uma pessoa acione uma bombinha anti-asma ou um spray nasal contendo corticoides dentro de casa, como é recomendação do fabricante no primeiro uso para a ativação dos mesmos, aquele medicamento poderá permanecer no ambiente e, possivelmente, exercer efeitos subclínicos que podem afetar o desenvolvimento de crianças e bebês, por exemplo", alerta.
Ainda sobre os riscos relacionados à descoberta, Felipe Vidal destaca que cortar ou partir medicamentos em ambientes internos pode liberar princípios ativos, que acabam se acumulando na poeira e sendo inalados ou ingeridos inadvertidamente pelos ocupantes. Mesmo em doses muito baixas, certos fármacos, como os à base de hormônios, podem apresentar atividade significativa. “Acredito que o farmacêutico poderia ter um papel importante em mitigar esses efeitos indesejados que, até hoje, nunca foram objeto de atenção”, afirma.