Estudo mostra efeitos da taurina na longevidade em animais, mas falta pesquisa em humanos
São necessários testes em humanos para avaliar se a suplementação de taurina aumenta o tempo de vida saudável em humanos
Pesquisas publicadas constantemente pela mídia chamam a atenção para produtos que podem ser utilizados como suplementos alimentares por seus supostos benefícios surpreendentes para a saúde, como retardar o envelhecimento aparente ou até aumentar a expectativa de vida. Porém, é de suma importância lembrar que há um conjunto complexo de fatores, tais como a genética de uma pessoa, o ambiente em que vive e hábitos diários de vida, que podem ser mais determinantes nesses resultados do que a mera ingestão isolada de compostos com promessas milagrosas.
Esse é o caso da taurina, aminoácido considerado micronutriente semi-essencial, que é produzido pelo próprio organismo humano, mas deixa de ser abundante com o passar dos anos. A substância pode ser encontrada em alimentos como peixes, frango, peru, carne vermelha e frutos do mar, e vem sendo alvo de pesquisas científicas em razão de seus potenciais benefícios à saúde.
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Columbia, em Nova York, por exemplo, atribuiu à suplementação de taurina na dieta de camundongos e de macacos uma redução de marcadores relacionados ao processo de envelhecimento, o que teria prolongado a vida dos camundongos e a saúde dos macacos.
Informação sobre a taurina
Naturalmente, o corpo humano pode produzir a taurina a partir da metionina e da cisteína, usando a vitamina B6. A maioria das nozes e feijões é rica em metionina; a cisteína também pode ser obtida desses alimentos, além de sementes, aveia, legumes e a maioria dos grãos integrais.
Estima-se que uma dieta básica fornece uma média de 400 mg de taurina por dia. No entanto, em determinados indivíduos, a suplementação dietética de taurina pode ser necessária para alcançar os níveis ideais do aminoácido.
No Brasil, a taurina é classificada como suplemento alimentar pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão que considera 2.000 miligramas como o limite máximo diário recomendado para consumo por pessoas com idade a partir de 19 anos.
- Qual é a segurança da suplementação de taurina?
O uso de taurina não está associado à ocorrência de mutação genética, câncer ou malformação fetal. Logo, é improvável que a ingestão suplementar de taurina ofereça risco de efeitos adversos à reprodução humana seguindo-se as recomendações de uso.
Uma vez que não apresenta efeitos tóxicos relevantes em humanos, a taurina pode ser tomada como suplemento, por via oral. Todavia, vale salientar que ainda são necessários testes em humanos para avaliar se a suplementação de taurina aumenta o tempo de vida saudável em humanos.
- Existe relato na literatura de interação de taurina com outros compostos?
Pode existir um potencial para interações aditivas entre taurina e cafeína, uma vez que os dois compostos exercem efeitos estimulantes no sistema nervoso central e diurético. Por outro lado, a taurina pode atenuar os efeitos cardiovasculares da cafeína .
- Existem evidências científicas sobre os benefícios da suplementação de taurina em humanos?
O envelhecimento está associado a alterações no organismo humano que afetam desde as estruturas intracelulares aos órgãos e sistemas, mas os mecanismos moleculares dessas alterações ainda não estão totalmente elucidados pela ciência.
A partir de estudos envolvendo algumas espécies de animais, pesquisadores identificaram que as concentrações de taurina são reduzidas no organismo com a idade.
Em animais, a suplementação alimentar com taurina retardou o desenvolvimento de fatores associados ao processo de envelhecimento, em nível de DNA e de estruturas celulares. A suplementação com taurina melhorou a sobrevida em camundongos e o período de vida saudável em macacos, mas não há estudos em humanos.
Há estudos que associam a redução de taurina, em humanos, a doenças relacionadas à idade. Mas para saber se a deficiência de taurina é um fator de envelhecimento em humanos ainda são necessários estudos de suplementação de taurina bem controlados e de longo prazo, que avaliem seus efeitos sobre o tempo de vida com saúde e o tempo de sobrevida.
Há estudos clínicos que avaliaram os efeitos potencialmente benéficos do consumo de taurina por adultos saudáveis e adultos e crianças com variadas doenças e condições clínicas, mas sem resultados definitivos.
- Existem relatos de efeitos adversos atribuíveis à taurina?
Altas doses de taurina foram associadas à ocorrência de vertigem, em indivíduos com disfunção renal. Além disso, alguns indivíduos podem desenvolver hipersensibilidade à taurina. O uso de taurina deve ser cuidadoso em pessoas com úlceras gástricas.
Recomendação
Como qualquer intervenção nutricional, a suplementação de taurina com o objetivo de melhorar a saúde e a longevidade humana deve ser abordada com cautela. Sugere-se a avaliação de especialista em nutrição para verificar se existe a necessidade de suplementação de taurina.
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