Estudo aponta que TDAH em adultos está ligado a redução de até nove anos na expectativa de vida

Pesquisa britânica com 330 mil participantes associa o transtorno a maior mortalidade por causas evitáveis; especialistas destacam necessidade de ampliar acesso a tratamento integral

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Um estudo retrospectivo do Reino Unido, publicado em 23 de janeiro no The British Journal of Psychiatry, revelou que adultos diagnosticados com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) podem viver, em média, sete anos a menos que a população geral — com redução de nove anos para mulheres. A pesquisa, que analisou dados de 30.039 pacientes com TDAH e 300.390 indivíduos sem o transtorno, aponta que fatores como tabagismo, comportamentos de risco e falta de suporte à saúde mental contribuem para a mortalidade precoce.

Risco dobrado e causas evitáveis
Os resultados mostraram que homens com TDAH tiveram 1,89 vez mais chances de morrer prematuramente, enquanto o risco para mulheres foi 2,13 vezes maior. A expectativa de vida média aos 18 anos foi reduzida em 6,78 anos para homens (73 anos vs. 80 anos no grupo controle) e 8,64 anos para mulheres (75 anos vs. 84 anos).

Os autores destacam que o transtorno está frequentemente associado a comorbidades como uso problemático de substâncias, tabagismo e condições psiquiátricas, que podem agravar riscos cardiovasculares e de câncer. “Essa desigualdade exige atenção urgente. A redução na expectativa de vida provavelmente está ligada a fatores modificáveis, não ao TDAH em si”, afirmou a epidemiologista Dra. Elizabeth O’Nions, autora principal do estudo, em comunicado.

Diagnóstico limitado e desafios no tratamento
O estudo utilizou registros eletrônicos de 794 clínicas de atenção primária do Reino Unido, atualizados com dados de óbitos do sistema público de saúde. Apesar da robustez da amostra, os pesquisadores reconhecem limitações: apenas uma parcela de adultos com TDAH é diagnosticada, e o estudo pode superestimar a lacuna de expectativa de vida, já que pacientes identificados tendem a ter problemas de saúde adicionais.

Especialistas externos reforçaram a complexidade do tema. “O TDAH está ligado a desfechos negativos de saúde, mas o acesso limitado a diagnóstico e tratamento agrava o problema”, afirmou o psiquiatra Dr. Philip Asherson, do King’s College London. Já o Dr. Oliver Howes, também do King’s College, destacou a necessidade de investigar como o momento do diagnóstico e as terapias influenciam os resultados.

Prioridade para políticas públicas
Os achados reforçam a urgência de ampliar suporte integral a pessoas com TDAH, incluindo acompanhamento multidisciplinar para reduzir comportamentos de risco e tratar comorbidades. “A mortalidade precoce não é inevitável. Melhorar o acesso a cuidados pode reverter parte desse cenário”, concluiu Dra. O’Nions.

O estudo não teve financiamento específico. Conflitos de interesse foram declarados como inexistentes pelos autores.