Estudo sugere ligação entre uso prolongado de antidepressivos e risco de morte súbita cardíaca

A pesquisa, no entanto, ressalta que os dados não implicam uma relação causal direta e que a interrupção do tratamento sem orientação habilitada é desaconselhada

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Resultados preliminares de um estudo dinamarquês apresentado nesta terça-feira no congresso European Heart Rhythm Association 2025 indicam que o uso de antidepressivos por seis anos ou mais pode estar associado a um aumento superior a 100% no risco de morte súbita cardíaca. A pesquisa, no entanto, ressalta que os dados não implicam uma relação causal direta e que a interrupção do tratamento sem orientação médica é desaconselhada.

Conduzido por pesquisadores do Hospital Universitário de Copenhague, o estudo analisou 4,3 milhões de registros de adultos dinamarqueses (18 a 90 anos) e comparou certificados de óbito e laudos de autópsia de 2010. Entre os 6.002 casos de morte súbita cardíaca identificados, 1.981 ocorreram em pacientes que usavam antidepressivos há pelo menos um ano, com duas ou mais prescrições anuais. Após ajustes para fatores como idade, sexo e comorbidades (diabetes, doenças cardíacas), o risco foi 56% maior em quem usava os medicamentos há 1 a 5 anos e mais que dobrou (117%) após seis anos ou mais de tratamento.

Contexto e limitações
O Dr. Jasmin Mujkanovic, líder do estudo, enfatizou que a depressão em si é um fator de risco conhecido para complicações cardiovasculares. “A suspensão abrupta de antidepressivos pode ser mais perigosa que o risco identificado”, disse ao Medscape. Ele destacou que o tratamento eficaz da depressão melhora a qualidade de vida e pode incentivar hábitos saudáveis, reduzindo riscos cardíacos a longo prazo.

Os mecanismos sugeridos incluem efeitos de certos antidepressivos na atividade elétrica do coração (como prolongamento do intervalo QT) e ganho de peso, que pode levar à síndrome metabólica e aterosclerose. No entanto, o estudo não diferenciou classes de antidepressivos (como ISRS ou tricíclicos), e participantes podem ter alternado entre medicamentos.

Resposta da comunidade científica
Especialistas externos reforçaram a necessidade de cautela na interpretação. O psiquiatra Dr. Paul Keedwell, do Royal College of Psychiatrists do Reino Unido, lembrou que a depressão não tratada está ligada a um risco 60% maior de doenças cardíacas e redução na expectativa de vida. “O risco de morte precoce é muito maior quando a depressão não é tratada”, afirmou.

Já o cardiologista Dr. Charles Pearman (Manchester University NHS) ponderou que fatores como estilo de vida (tabagismo, sedentarismo) podem influenciar os resultados. “Antidepressivos podem ser marcadores de outros riscos, não a causa direta”, disse. Ambos concordaram que pacientes não devem interromper a medicação sem consultar um médico.

Próximos passos
Os pesquisadores planejam investigar diferenças entre sexos e classes de antidepressivos em estudos futuros. Enquanto isso, a mensagem central permanece: o equilíbrio entre os benefícios comprovados dos antidepressivos e possíveis riscos cardiovasculares requer monitoramento individualizado, não a suspensão precipitada do tratamento.

O estudo não recebeu financiamento externo. Conflitos de interesse foram declarados como inexistentes pelos autores e comentaristas.