Exame de sangue combinado identifica Alzheimer com 90% de precisão, diz estudo

Biomarcadores p-tau217 e relação amiloide 42/40 mostraram-se mais precisos que diagnósticos clínicos; pesquisadores pedem validação antes de uso rotineiro

Image description

Um novo estudo apontou que um exame de sangue que combina a medição da proteína tau fosforilada 217 (p-tau217) com a razão entre as proteínas amiloides 42 e 40 apresentou 90% de precisão para indicar se o declínio cognitivo de um paciente se deve à doença de Alzheimer. A taxa supera a de especialistas em memória, que acertaram 73% dos diagnósticos, e a de médicos de atenção primária, com 61% de acerto.

A p-tau217 é um biomarcador que aumenta de forma expressiva em pessoas com Alzheimer e funciona como um sinal indireto da presença de placas amiloides no cérebro. Quando combinada com a razão amiloide 42/40, a capacidade preditiva do exame melhora, segundo os autores. Pesquisas anteriores já haviam mostrado elevados níveis de p-tau217 associados a depósitos de beta-amiloide e emaranhados de tau, marcas típicas da doença.

O trabalho acompanhou 1.213 pessoas na Suécia, com idade média de 74 anos, submetidas a avaliações cognitivas em clínicas de atenção primária e em unidades especializadas. Os resultados do exame de sangue foram validados por meio dos métodos atualmente considerados padrão-ouro: punção lombar e PET para amiloide, além da comparação com os diagnósticos clínicos dos médicos que atenderam os pacientes.

Especialistas ouvidos no estudo ressaltam que testes sanguíneos altamente precisos poderiam transformar a prática clínica. Eles reduziram a necessidade de procedimentos caros e invasivos e poderiam agilizar a triagem de pacientes elegíveis para terapias que atacam a beta-amiloide, além de encurtar tempos de espera para avaliação especializada. Modelos prévios estimam que, com exames de sangue confiáveis, o tempo de espera por diagnóstico poderia cair de anos para meses.

Ainda assim, os pesquisadores e clínicos alertam para limitações. São necessários mais estudos de validação, definição de diretrizes de uso e capacitação de médicos antes que o teste vire rotina na atenção primária. Um resultado positivo provavelmente precisará de confirmação por imagem ou líquor em muitos casos, enquanto um resultado negativo tende a ser mais tranquilizador, segundo os autores.

Além do potencial diagnóstico, o avanço dos biomarcadores abre espaço para intervenções precoces. Depósitos de amiloide podem começar a se acumular décadas antes do surgimento dos sintomas, e identificar esse processo cedo permitiria adotar mudanças no estilo de vida e considerar tratamentos preventivos. Enquanto isso, recomenda-se manter hábitos que protejam o cérebro, como atividade física regular, dieta equilibrada e controle de fatores vasculares.

Pesquisadores definem o momento como promissor, mas pedem cautela: os testes de sangue para Alzheimer apresentam resultados animadores, porém ainda não substituem completamente as técnicas diagnósticas tradicionais. O próximo passo é validar os achados em populações maiores e integrar os exames a protocolos clínicos que garantam precisão, segurança e acesso.