Operação Special-K: PF combate a distribuição ilegal do medicamento Ketamina (Cetamina)

Cetamina é considerada uma droga enquadrada pela convenção da ONU como uma Nova Substância Psicoativa (NSP)

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A Polícia Federal deflagrou, no dia 16/11, a 2ª fase da Operação Special-K, visando coibir a distribuição ilegal da substância Ketamina (Cetamina). O medicamento vem sendo desviado de clínicas autorizadas a adquiri-lo e comercializada de forma clandestina como droga recreativa.

O que é a cetamina?

Trata-se de um anestésico injetável de ação curta, utilizado em humanos e animais de pequeno e grande porte, sendo referido como um “anestésico dissociativo” devido à capacidade de desconectar os pacientes da dor e do ambiente.

Devido à sua capacidade de provocar sensações dissociativas e alucinações, a substância também tem sido empregada em situações conhecidas popularmente como "boa noite cinderela".

Quais são os efeitos?

A cetamina pode induzir um estado de sedação (sensação de calma e relaxamento), imobilidade, alívio da dor e amnésia (ausência de memória dos eventos enquanto sob a influência da droga) e distorce as percepções de visão e som. Os efeitos começam rapidamente, geralmente poucos minutos após a ingestão. O usuário pode experimentar um aumento na frequência cardíaca e na pressão arterial, que diminui gradualmente nos 10 a 20 minutos seguintes. Seus efeitos alucinógenos têm duração relativamente curta, aproximadamente 30 a 60 minutos. Contudo, em caso de overdose, pode causar inconsciência e respiração perigosamente lenta.

"A cetamina pode levar os usuários a não responderem aos estímulos, manifestando movimento ocular involuntariamente rápido, pupilas dilatadas, salivação, secreções lacrimais e enrijecimento dos músculos", explica o farmacêutico José Roberto Santin, membro do Grupo de Trabalho sobre Toxicologia do Conselho Federal de Farmácia e da Sociedade Brasileira de Toxicologia (SBTOX).

Uso abusivo

O aumento do uso abusivo, na década de 1990, levou a agência de saúde americana (FDA), a classificar a cetamina como uma droga de abuso. Ela atua no sistema límbico, córtex cerebral e gânglios da base, aumentando a excitação elétrica nessas áreas, além do hipocampo, resultando em um aumento do tônus simpático. Os usuários são atraídos pelos efeitos da droga, que incluem elevação do humor, euforia, distorções visuais e auditivas, sensações eróticas, empatia e a sensação de flutuação sobre o próprio corpo, entre outros.

Rafael Lanaro, diretor da SBTOX e membro do GT sobre Toxicologia do CFF, explica que atualmente a cetamina é considerada uma droga enquadrada pela convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) como uma Nova Substância Psicoativa (NSP). “De fato, segundo dados de pesquisas recentes da UNICAMP, com base na análise de fluido oral de amostras coletadas em pessoas que frequentavam festivais e festas de música eletrônica, a cetamina foi uma das principais drogas detectadas”.

Indicações de uso

Seu uso principal ainda é como medicamento ou terapêutica, principalmente em procedimentos de anestesia. Em doses baixas, não produz estado dissociativo. O uso da cetamina é de escolha principalmente para crianças e adolescentes em decorrência da estabilidade cardiopulmonar, dos reflexos de vias aéreas, com respiração espontânea preservada.

"Todos os profissionais de saúde que utilizam cetamina devem conhecer as indicações e contra-indicações. Neste contexto, os farmacêuticos desempenham um papel crucial durante dispensação e administração, protegendo-os contra doses inadequadas e verificando eventos adversos e interações medicamentosas. Além disso, o monitoramento dos sinais vitais do paciente é obrigatório durante a infusão do medicamento. Deve-se sempre ter equipamento de reanimação na sala, caso seja necessária intubação", explica José Roberto Santin.

Mais recentemente, uma versão prescrita de cetamina chamada esketamina (Spravato), administrada por meio de spray nasal, foi aprovada em 2019 pelo FDA para tratamento de depressão resistente. Entretanto, de acordo com as diretrizes, ele deve ser usado apenas “sob a supervisão de um profissional”. Isso significa que os profissionais precisam observar o paciente e acompanhá-lo após a administração da dose, verificando os sinais vitais e o estado clínico.