Farmacêutico do Amapá descobre solução à base de urucum que pode baratear exame Papanicolaou

O produto diminui o custo do exame e já foi patenteado pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).

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O Doutor em inovação farmacêutica, Edilson Leal da Cunha, da Universidade Federal do Amapá, é um dos responsáveis pela descoberta da funcionalidade do popular urucum da Amazônia (Bixa orellana L.) para fazer uma solução etanólica que pode substituir o atual corante sintético utilizado no exame preventivo do câncer de colo de útero, o Papanicolaou. 

A introdução do extrato etanólico padronizado de Bixa orellana L. (EEBO) na coloração de Papanicolaou pode substituir o uso do tradicional corante ácido orange G. A alternativa sustentável, com base em um produto da biodiversidade brasileira, obtido dos frutos de uma planta abundante na região Amazônica, ainda pode gerar uma economia significativa na realização dos exames e evitar intoxicações. "Com 20 gramas de sementes dá para preparar 13 litros de corante. E a supressão do xilol ainda elimina riscos à saúde dos colaboradores, cuja exposição ao Orange G os condiciona à inalação de vapores", comemora.

Edilson Leal

A solução foi desenvolvida pelo farmacêutico Edilson Leal como resultado da tese de doutorado, sob orientação do professor doutor José Carlos Tavares. A descoberta reduz o tempo de coloração e a quantidade de álcool etílico no processo do exame e é a primeira patente concedida à Unifap pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Foram sete anos de pesquisa para chegar no estágio de receber a concessão de uso.

Para o orientador do projeto, a descoberta não contribui apenas com a evolução da farmacologia, mas também com a pesquisa na Amazônia que, de acordo com os estudiosos, é um dos maiores produtores de urucum do mundo, sendo o Brasil um dos três maiores produtores. 

O conselheiro federal de Farmácia pelo Estado do Amapá, Carlos Oeiras Sena, acredita que o produto possa ser uma ferramenta de grande valia para tornar os exames mais baratos e acessíveis. "São trabalhos como este que nos permitem ver a grandeza da profissão e de como podemos ajudar na melhoria da saúde da população. Nós farmacêuticos, trabalhamos para isso. O doutor Edilson Cunha foi muito assertivo nesse trabalho e está de parabéns por ter conseguido patentear essa inovada solução", relata o conselheiro.  


O exame Papanicolaou

A coloração de Papanicolaou foi criada em 1942, por George Nicholas Papanicolau e já sofreu várias modificações no sentido de torná-la mais rápida. Nesta pesquisa, o farmacêutico explica que as modificações introduzidas visaram "diminuir o tempo de coloração, eliminando algumas: supressão das passagens pelas soluções de álcool etílico a 80%, 70% e 50%, supressão do uso do xilol, supressão do ácido clorídrico a 25%, substituição do Bálsamo do Canadá pelo verniz comercial Acrilex na montagem das lâminas e substituição do corante orange G pelo extrato EEBO".  

A chamada citologia esfoliativa, tem como fundamento o estudo das células que se descamam dos diversos epitélios e fornece informações importantes do que ocorre nestes tecidos. A análise das células descamativas do epitélio da cérvice uterina é de suma importância na prevenção do câncer do colo do útero (PCCU). No exame, são analisadas as amostras de células por meio da coloração de Papanicolaou.

Doutor Edilson Leal evidencia, ainda, que o produto é extraído de um fruto da biodiversidade brasileira traz uma contribuição muito importante para a área de farmácia. "A Universidade tem um produto que é barato, não dá trabalho para preparar e pode ser colocado no mercado de forma bem tranquila”.