O que acontece quando uma infecção resiste aos tratamentos?
Paciente que sofreu com o problema conta as dificuldades que enfrentou e entrou para o projeto Reabilita Sepse
A resistência dos microrganismos antimicrobianos atinge milhões de pessoas em todo o mundo e, cada vez, cresce o número de doenças que resistem aos medicamentos já existentes para tratá-las. Mas a situação é ainda mais preocupante quando um paciente desenvolve sepse, uma complicação potencialmente fatal de uma infecção.
A sepse ocorre quando substâncias químicas liberadas na corrente sanguínea para combater uma infecção desencadeiam uma inflamação em todo o corpo. Isso pode causar uma série de alterações que danificam diversos sistemas de órgãos, levando-os a falhar e, às vezes, resultando em morte. Os sintomas da sepse incluem febre, dificuldade respiratória, pressão arterial baixa, ritmo cardíaco acelerado e confusão mental. O tratamento inclui o uso de antibióticos e fluidos intravenosos.
A fisioterapeuta Letícia Oliveira, atualmente com 27 anos, sofreu um choque séptico em fevereiro de 2018, quando tinha apenas 22 anos. "Sou uma pessoa saudável, nunca tinha ficado internada, não tinha/tenho nenhuma doença. Tudo começou com sintomas típicos de uma infecção: dor na garganta, febre, tosse, nariz entupido. Nada que eu nunca tivesse tido antes. No dia seguinte do início dos sintomas, procurei um hospital e fui diagnosticada com um choque séptico. Poucas horas depois, estava entubada e na UTI. Fiquei 16 dias entubada, 27 dias na UTI e 62 internada", detalhou em depoimento para o Reabilita Sepse, projeto do Instituto Latino-Americano de Sepse (ILAS).
Durante esse tempo, Letícia teve diversas complicações como lesão pulmonar, insuficiência renal aguda (passou por hemodiálise), derrame pleural (com necessidade de dreno de tórax), infecções hospitalares por bactérias resistentes e difíceis de tratar. Ela também precisou de transfusões de sangue, foi pronada e cardiovertida. "Durante a internação, tive outra infecção no pulmão por Klebsiella pneumoniae (KPC) e Pseudomonas aeruginosa. Ambas são multiresistentes e uma delas era sensível a apenas um antibiótico (amicacina), que não tinha no hospital que estava. Após campanha nas redes sociais, consegui ampolas para realizar a medicação", lembra.
Atualmente, Letícia diz reconhecer que o diagnóstico precoce das infecções e do choque séptico foram essenciais para um tratamento rápido e eficaz, sem uso inadequado de antibióticos. "Apesar de todas as complicações, hoje tenho uma vida normal e sem sequelas importantes".
A resistência aos antimicrobianos se tornou uma epidemia silenciosa que provocou aproximadamente 4,95 milhões de mortes em todo o mundo, sendo 1,27 milhões de mortes causadas diretamente por infecções de bactérias resistentes. E estimativas epidemiológicas preveem tendência de aumento no número de vítimas por infecções bacterianas resistentes: estima-se que, em 2050, 10 milhões vidas humanas por ano sejam perdidas. O problema do uso inadequado e exagerado de antimicrobianos também atinge atividades veterinárias e pecuárias, provocando a morte de animais e dificultando o tratamento de infecções persistentes.