Paracetamol só é prejudicial ao fígado se ingerido em altas doses e em excesso, explica farmacêutico
Segundo Thiago de Melo, o medicamento é seguro se for utilizado de forma correta e se o paciente não consumir álcool ou fumar durante o uso
O paracetamol é um fármaco recomendado para o alívio da dor de cabeça, febre e dores no corpo geralmente associados à gripe, mas tem sido muito comentado atualmente nas mídias por seu potencial efeito de provocar falência hepática. Porém, é preciso lembrar que esse risco envolve um fator: a dose. Caso ingerido em excesso (acima de 3g por dia, as lesões no fígado podem ocorrer). A razão está na produção de um metabólito chamado NAPBQI, que quando produzido em excesso pode causar danos no fígado.
Portanto, em doses terapêuticas, o paracetamol age no organismo como analgésico, elevando o limiar da dor e, como antipirético, agindo no centro hipotalâmico, que regula a temperatura. Se utilizado da maneira correta, não provoca malefícios à saúde, uma vez que o organismo dá conta de biotransformar o produto tóxico por meio de um "superheroi bioquímico" chamado glutationa que habitualmente o ser humano produz com facilidade.
É o que afirma o farmacêutico e professor do ICTQ, Thiago de Melo, estudioso da farmacologia que se tronou 'influencer' nas redes sociais e possui mais de 200 mil seguidores. "O paracetamol em doses terapêuticas, de 500mg, 750mg, 1g, não causa lesão hepática. A lesão hepática acontece a partir da ingestão de 3g, 4g e assim por diante. Se o indivíduo fuma e bebe, pior. O álcool e o cigarro potencializam a lesão gerada pelo paracetamol", alerta em um vídeo publicado nesta quinta-feira (27.07).
Thiago de Melo, professor do ICTQ
O especialista continua sua explicação: "de forma mais simples, imagine o paracetamol como se fosse uma granada, em que é preciso tirar o pino para ela explodir. E, no caso do paracetamol, isso acontece. Ele precisa ser convertido em uma substância que é tóxica, com um nome horroroso, N-acetilparaiminobenzoquinona (NAPBQI). É ela que causa a lesão no fígado".
Como exemplo prático, o farmacêutico, PhD e criador de conteúdo digital, cita a recomendação de paracetamol para crianças. "Se o neonato está com um quadro febril, o primeiro analgésico a ser prescrito é o paracetamol. Por que? A criança não consegue fazer essa conversão facilmente no produto tóxico. Então, é o produto mais seguro que existe para os recém nascidos", completa.
O consumo em excesso de paracetamol por adultos é que faz do medicamento um grande problema social, levando pacientes até a perder a vida por causa do medicamento. "Pessoas que resolvem consumir de quatro em quatro horas, ou então compram um produto chamado 'sonridor': paracetamol!. Dôrico; tem paracetamol. Beserol, tem paracetamol. Ele nem sabe, e está fazendo associações com medicamentos que contêm a mesma substância ativa. E o pior: alguns ainda trazem dos EUA medicamentos com sabor de uva, no qual está escrito 'acetaminofeno', que também é paracetamol", explica.
Por estar disponível, sem necessidade de receita médica, e por seus efeitos de diminuir as dores, o paracetamol está entre os remédios mais consumidos de todo o mundo. O fármaco também é um dos medicamentos mais produzidos e comercializados no Brasil.
De acordo com informações divulgadas pela Rede BBC, a indústria americana contabiliza que a venda de 49 mil toneladas desse medicamento por ano nos Estados Unidos. Isso significa 298 comprimidos por habitante no mesmo período.
Veja o perfil do Dr. Thiago de Melo no instagram www.instagram.com/farmaconapratica e no youtube (farmacologia na prática)