Zolpidem: prescrição inadequada e consumo ilegal viram problema de saúde pública

O medicamento é seguro desde que seja utilizado da forma correta

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Sônia Aguiar, uma comerciante de 35 anos, quase perdeu a vida em uma luta silenciosa contra o vício em Zolpidem. Sua jornada começou de maneira aparentemente inofensiva, quando lhe foi receitado o medicamento para ajudá-la a lidar com a insônia ocasional. No entanto, o que começou como uma solução para suas noites agitadas rapidamente se transformou em uma armadilha insidiosa.

“Eu seguia a prescrição com cuidado, tomando uma dose baixa do medicamento antes de dormir quando realmente precisava. No entanto, com o tempo, percebi que o Zolpidem não apenas me ajudava a dormir, mas também oferecia uma fuga temporária das pressões e preocupações da vida”, declarou Sônia. Em maio de 2023, a comerciante foi internada por intoxicação medicamentosa e, desde então, luta contra o vício. 

O Zolpidem é um medicamento prescrito comumente utilizado para o tratamento de distúrbios do sono, especialmente a insônia. Ele pertence a uma classe de medicamentos conhecida como hipnóticos não benzodiazepínicos, substâncias que têm a capacidade de induzir o sono.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mais de 20 milhões de caixas do medicamento foram vendidas somente em 2022 e existe um consenso entre os especialistas sobre a necessidade de aumentar o controle sobre as vendas de Zolpidem no país — e ampliar a conscientização sobre o uso adequado do fármaco.

Karin Anne Margaridi, membro do Grupo de Trabalho sobre Saúde Pública do Conselho Federal de Farmácia (CFF), explica que, quando dormimos naturalmente, o processo acontece devagar: aos poucos, o cérebro vai relaxando e se desconectando da realidade, até entrarmos no estado de sono e que o medicamento acelera esse processo. “É como se uma luz fosse apagada instantaneamente. O Zolpidem faz isso de uma maneira rápida e abrupta”, salientou.

A farmacêutica reforça que o uso do fármaco tem uma indicação bem clara e precisa e o tratamento acontece por um curto período, que chega no máximo a quatro semanas. Atualmente, especialistas ressaltam que o Zolpidem está sendo indicado para qualquer dificuldade no sono e por um tempo prolongado demais, o que pode estar diretamente ligado ao crescente número de pacientes dependentes do medicamento. 

Karin enfatiza que o medicamento é seguro e eficaz no tratamento da insônia. Hoje em dia é crescente o uso disseminado e prolongado desse medicamento, podendo ocorrer efeitos colaterais com riscos associados ao tratamento.  “É importante que nós, farmacêuticos, tenhamos a consciência que fazemos parte dessa equação e que somos essenciais para garantir o uso racional desse e de qualquer outro medicamento”, enfatiza a farmacêutica.