Texas processa fabricantes do Tylenol, alegando que ocultaram riscos de autismo
Ministério da Saúde reafirma que paracetamol não causa autismo
O procurador-geral republicano do Texas, Ken Paxton, ingressou nesta terça-feira (28) com uma ação judicial contra a Johnson & Johnson e a Kenvue, afirmando que as empresas teriam ocultado dos consumidores riscos associados ao uso do Tylenol durante a gravidez. O processo sustenta que o medicamento, cujo princípio ativo é o paracetamol, estaria ligado a transtornos do neurodesenvolvimento, como autismo e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, alegações que ainda não foram comprovadas cientificamente.
A peça protocolada no Texas também acusa a Kenvue, empresa que passou a comercializar o Tylenol em 2023 após desmembramento da Johnson & Johnson, de ter sido estruturada para evitar responsabilidades relacionadas ao produto. Trata-se do primeiro processo movido por um estado norte-americano que toma como base as declarações do presidente Donald Trump, feitas no mês anterior, sobre uma possível correlação entre o uso de acetaminofeno na gravidez e o desenvolvimento de transtornos neurológicos.
Em resposta às acusações, a Kenvue reafirmou a segurança do Tylenol e rejeitou as alegações. "Vamos nos defender contra essas alegações infundadas e responderemos conforme o processo legal", afirmou Melissa Witt, porta-voz da empresa, acrescentando que a comunidade médica global reconhece a segurança do acetaminofeno. A Johnson & Johnson, por sua vez, salientou que sempre alertou os consumidores sobre o risco comprovado de danos ao fígado em casos de uso excessivo do medicamento.
A controvérsia ganhou força entre seguidores de figuras públicas antivacina e críticos do consenso científico, e avançou para o debate público após as declarações presidenciais. Organizações de saúde internacionais e agências regulatórias europeias e do Reino Unido negaram a existência de evidências que sustentem a relação entre paracetamol na gestação e autismo, enquanto pesquisadores pedem mais estudos rigorosos antes de qualquer conclusão.
No Brasil, o Ministério da Saúde emitiu nota oficial reafirmando o compromisso com a ciência e enfatizando que não há relação comprovada entre o uso de paracetamol e o transtorno do espectro autista, TEA. A pasta alertou para os riscos da desinformação, que pode levar à recusa de tratamentos adequados para febre e dor e causar prejuízos à saúde de mães e filhos. O ministério também lembrou que o TEA é um distúrbio do neurodesenvolvimento marcado por manifestações comportamentais, déficits na comunicação e interação social, além de padrões de comportamento repetitivos.