É falso que o medicamento Ritalina é uma homenagem à cantora Rita Lee
Como um deep fake viralizou desinformação sobre o medicamento — e por que seu uso sem prescrição coloca a saúde em risco

Um vídeo que circula nas plataformas digitais associa, de maneira enganosa, o nome do medicamento Ritalina à cantora Rita Lee. Na gravação, manipulada por inteligência artificial para simular a voz e a imagem da artista, sugere-se que o fármaco teria sido batizado em sua homenagem. Contudo, tanto a equipe da musicista quanto o laboratório responsável pelo produto desmentiram a informação, reforçando que a narrativa carece de fundamento histórico.
Apesar da desinformação, o debate reacendeu questões sobre o uso inadequado do metilfenidato — princípio ativo da Ritalina —, especialmente entre estudantes que buscam aprimorar o rendimento acadêmico. Farmacêuticos e pesquisadores ressaltam que, embora o medicamento seja eficaz no tratamento de condições como TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), seu consumo sem prescrição traz riscos como dependência, ansiedade e alterações cardiovasculares. Além disso, não há evidências de que ele potencialize habilidades cognitivas em indivíduos saudáveis.
A origem real do nome, porém, remonta a uma história curiosa da década de 1940. O químico suíço Leandro Panizzon, então colaborador da farmacêutica Ciba (atual Novartis), desenvolveu a substância em 1944 e decidiu testá-la em sua esposa, Marguerite, que enfrentava episódios de hipotensão. Após ingerir o composto, ela relatou melhora no desempenho durante atividades físicas, como partidas de tênis. Em reconhecimento à participação dela nos experimentos, Panizzon combinou o apelido carinhoso da esposa, "Rita", com o sufixo "lina", resultando em "Ritalina".
O medicamento foi patenteado em 1954 e lançado comercialmente no ano seguinte, inicialmente para tratar fadiga e distúrbios do sono. Somente nas décadas seguintes, com avanços na psiquiatria, seu uso foi direcionado a transtornos neurocomportamentais. Curiosamente, quando a Ritalina chegou ao mercado, Rita Lee — que nasceu em 1947 — era ainda uma criança, o que inviabiliza qualquer conexão entre a artista e a nomenclatura do fármaco.
Essa narrativa, além de destacar a importância de checar fontes diante de conteúdos virais, revela como mitos podem ofuscar fatos históricos — mesmo aqueles marcados por homenagens singelas, como a de um marido à esposa que colaborou com sua descoberta científica.