Farmacêuticos resolvem 70% dos casos de saúde autolimitados após capacitação
É o que mostra pesquisa da UnB ao observar atendimentos realizados por profissionais que passaram por treinamento. CFF pretende oferecer o curso na plataforma Edufarma

Dados de uma pesquisa inédita realizada com farmacêuticos capacitados em um curso sobre o manejo de problemas de saúde autolimitados foram apresentados na Reunião Plenária de junho do Conselho Federal de Farmácia. O estudo, feito por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), deu origem ao livro Farmácia Baseada em Evidências - Diretrizes de Cuidado Farmacêutico em Manejo de Problemas de Saúde Autolimitados. A publicação reúne 31 protocolos clínicos para orientar o farmacêutico no atendimento a quadros de saúde mais recorrentes nas farmácias, como dor de cabeça, diarreia, constipação, dismenorreia, piolhos, herpes labial, azia, resfriado e até ressaca.
Além de reforçar a importância da prática clínica farmacêutica no manejo de condições autolimitadas, o trabalho revelou o quanto a formação pode influenciar para um atendimento mais assertivo aos pacientes. "Nós observamos que o aluno tem um bom desempenho nas habilidades de comunicação, porém necessita de uma maior bagagem de evidências para realizar as intervenções. Então, a proposta de diretrizes específicas para o farmacêutico se mostrou efetiva para que o farmacêutico tenha segurança no atendimento e consiga identificar sinais de alerta que demandem encaminhamento", detalhou o Prof. Rafael Santana, um dos autores do estudo.
O farmacêutico e professor Rafael Santana foi um dos autores do estudo da UnB que reuniu 31 protocolos.
O curso e a pesquisa
As capacitações da UnB tiveram início em 2022 e formaram mais de 600 farmacêuticos que atuam em farmácias públicas, privadas, além de estudantes em fase de conclusão do curso de Farmácia. Entre as atividades, está o uso de simulação realística do atendimento para alinhar teoria, evidências científicas e habilidades clínicas. "Os farmacêuticos realizam o atendimento com 'pacientes simulados', antes e após o treinamento com as diretrizes, nós supervisionamos e coletamos os dados. Observamos uma grande diferença no início e no fim do treinamento, onde os farmacêuticos realizam intervenções farmacológicas e não farmacológicas com maior nível de evidência, tinham maior nível de confiança e maior pontuação em escores de competências clínicas", explica o professor.
Após o treinamento, os farmacêuticos também precisavam registrar o atendimento de pacientes reais que procuravam suas farmácias de trabalho. Aproximadamente 130 pacientes participaram da pesquisa, sendo que 75% das pessoas que procuraram a farmácia não haviam se consultado com outro profissional de saúde e 55% destes já apresentavam sintomas há cerca de 1 a 5 dias. Cefaleia, síndrome gripal, dismenorreia, rinite e constipação intestinal foram as queixas mais recorrentes.
O treinamento proporcionou aos farmacêuticos a resolução de mais de 70% dos problemas de saúde autolimitados na própria farmácia. Em cerca de 20% dos atendimentos, foram identificados sinais de alerta e os pacientes foram encaminhados a outros serviços de saúde para avaliação. Em consequência, 95% das pessoas relataram elevado nível de satisfação com o atendimento e recomendariam a consulta farmacêutica a outras pessoas.
O trabalho desenvolvido pela UnB foi inspirado em experiências internacionais, como o modelo do NHS no Reino Unido, e mostra o farmacêutico como peça-chave para desafogar o sistema de saúde, evitar a automedicação e garantir que cada paciente receba o cuidado certo.
Além disso, reafirmou que o farmacêutico atua com responsabilidade e precisão no cuidado de saúde de baixa complexidade — e é indispensável, especialmente onde há dificuldade de acesso aos demais serviços.
"Estamos na quarta edição do curso e a proposta trazida para o CFF é de uma parceria para que possamos oferecê-lo de forma totalmente on-line, já que a procura de colegas de vários estados vem aumentando", afirma o professor. O presidente do CFF encaminhou o pedido de incorporação do curso à plataforma de ensino edufarma.cff.org.br. "Parabéns aos colegas! Cuidar é um compromisso coletivo. E, quando todos cuidam juntos, a saúde avança", disse Walter Jorge João.
A sugestão da pauta foi da conselheira federal de Farmácia pelo estado de Sergipe, Fátima Aragão, coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Farmácias Comunitárias do CFF. A professora Maria Cristina Verdam também participou da apresentação.
O livro Farmácia Baseada em Evidências - Diretrizes de Cuidado Farmacêutico em Manejo de Problemas de Saúde Autolimitados está disponível em: https://www.atheneu.com.br/farmacia-baseada-em-evidencias.