Cuidado farmacêutico leva pacientes a abandonar o cigarro em SP

UBS do Parque Novo Mundo II realiza trabalho de cessação do tabagismo e tem experiência publicada em revista do CFF

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Com o surgimento do novo coronavírus no Brasil, em meados de fevereiro de 2020, muitos profissionais da saúde se viram em uma situação difícil para oferecer o melhor atendimento aos pacientes. Em meio ao desconhecimento de como frear a disseminação e o agravamento dos casos de Covid-19, uma coisa era certa: o tabagismo foi apontado como uma causa significativa de piora da doença, considerado um fator de risco para as formas mais graves, causador de diferentes tipos de inflamação e que prejudica os mecanismos de defesa do organismo. Em meio a esse contexto, a equipe multiprofissional da Unidade Básica de Saúde (UBS) Parque Novo Mundo II, na cidade de São Paulo, focou o trabalho no cuidado aos pacientes que procuravam tratamento para cessação do tabagismo.

Liderado pela farmacêutica Nilzangela Cavalcante Nascimento, a unidade passou a oferecer atendimentos individualizados em janeiro de 2021. Ela explica que a iniciativa na unidade de saúde surgiu quando foi abordada no corredor pela esposa de um dos pacientes, pedindo ajuda, pois seu esposo estava tentando parar de fumar sozinho. “Como não ter empatia diante daquela situação?”, lembra. Foi então que ela apresentou a proposta, em reunião técnica, e recebeu o apoio da equipe multiprofissional, que montou o cronograma de atendimentos. Em oito meses, 33 pacientes foram atendidos, sendo 46% mulheres e 54% homens. A faixa etária média para mulheres foi de 50 anos e para homens foi de 61 anos.

 

 

O relato detalhado de como a equipe realizou este trabalho, foi um dos selecionados para fazer parte da nova edição da revista Experiências Exitosas de Farmacêuticos no Sistema Único de Saúde, do Conselho Federal de Farmácia, lançada na reunião plenária de janeiro de 2022. A farmacêutica Nilzangela Nascimento foi quem enviou o texto “Cessação do tabagismo em tempos de pandemia: o cuidado farmacêutico na equipe Multiprofissional” para a seleção do CFF. Ela decidiu divulgar o trabalho, diante dos bons resultados obtidos com a participação da equipe multiprofissional. “É uma satisfação estar cumprindo o meu propósito de vida, que é poder ser ponte na vida das pessoas, e, em um ano tão difícil, em que os profissionais estavam todos engajados nas campanhas e nos atendimentos de sintomáticos respiratórios, conseguimos promover saúde e utilizar as nossas habilidades para promover melhoria da qualidade de vida deste público”, explica.

A farmacêutica afirma que os atendimentos individualizados proporcionaram um olhar holístico para o Plano Terapêutico Singular. “Me sinto imensamente feliz em poder, junto à minha equipe, somar à equipe multiprofissional neste momento de pandemia. Quando um grupo de profissionais trabalham conjuntamente, a percepção de problemas clínicos é maior, por consequência, essa forma de trabalho eleva a qualidade da assistência e possibilita o alcance de melhores resultados nos tratamentos”, analisa.

Vida sem cigarro

O autônomo Dennis Forcheto, de 67 anos, foi um dos pacientes atendidos por Nilzângela para realizar o tratamento antitabagismo. Fumante há 53 anos, e com um quadro de enfisema pulmonar, Dennis tentou até abandonar o cigarro sem ajuda profissional, mas não conseguiu. Em meio à pandemia, sentiu a necessidade de parar imediatamente com o hábito. “Procurei o Caps para participar daquelas reuniões em grupo, mas não estavam acontecendo, por causa da pandemia. Foi então que procurei a UBS, em junho de 2020, e a doutora Nilzângela me recebeu e começou a fazer o tratamento comigo, isoladamente. Na semana seguinte, ela me deu duas opções, ou eu parava de fumar aos pouquinhos ou eu parava de uma vez. Eu decidi parar de uma vez e, no dia 27, um dia depois do aniversário do meu filho, eu parei definitivamente. A doutora fez um acompanhamento, me passou medicação, me deu adesivo para colocar na pele, um chicletinho, que é muito gostoso, e um calmante também”, detalha o paciente.

 

 

Após o sucesso do tratamento, Dennis, que também faz tratamento para uma doença de pele chamada psoríase, comemora a visível melhora na saúde. “Hoje eu durmo cedo e acordo cedo. Parei de tossir. Me sinto muito bem. Acredito que se eu fizer, agora, algum exame com relação à enfisema, talvez até nem tenha mais por que eu estou me sentindo muito bem; a respiração está boa, minha pele também”. Além disso Dennis diz que todas as pessoas do meu círculo de amizade, até a médica que cuida de sua psoríase, ficaram emocionados com o fato de ele ter parado de fumar. “Era uma coisa muito difícil mesmo, então eu me sinto um vencedor agora por ter conseguido largar o tabagismo. Eu sou fã do SUS, de maneira incontestável. Até porque eu faço tratamento com medicamentos de alto custo, da psoríase, e sou muito grato à doutora por tudo o que ela tem feito por mim.”

Pacientes livres do tabagismo

Os resultados obtidos pelos atendimentos e registro em prontuário foram impactantes, pois 87% conseguiram parar de fumar e, dentre os pacientes atendidos, 21 (64%) necessitaram de intervenção farmacêutica. A gerente da UBS, a enfermeira Viviane Agari, reforça a importância do trabalho da equipe multiprofissional como essencial para o alcance de ações exitosas, ainda mais em uma população, em sua maioria, de grande vulnerabilidade e baixa expectativa de vida. “A unidade atende, majoritariamente, mulheres adultas e com baixa escolaridade, seguida de crianças na primeira infância. O fortalecimento do vínculo entre equipe/usuário, mostrando que a unidade está aberta a acolher as necessidades da comunidade, é a chave para podermos cumprir com nossa responsabilidade sanitária local”.

 

 

Como consolidação do trabalho, foi realizado o primeiro evento sobre o dia nacional de combate ao tabagismo e, como resultados, 294 pacientes participaram de atividades como palestras, música, teatro e auriculoterapia livre.

Leia esse e outros relatos de sucesso na sétima edição da revista Experiência Exitosas de Farmacêuticos no SUS.