Farmacêuticos desfazem fake news sobre autotestes de Covid-19

Eles também explicam a diferença dos autotestes para os demais testes disponíveis no mercado

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Os autotestes para Covid019 ainda nem chegaram ao mercado e uma enxurrada de desinformação já é disseminada pelas redes sociais sobre os dispositivos, cujo o uso foi autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no dia 28 de janeiro. Na noite dessa quarta-feira, informações equivocadas foram esclarecidas à categoria farmacêutica e à população pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), em uma live que reuniu os farmacêuticos Mauren Isfer, Jorge Terrão, membros do Grupo de Trabalho sobre Análises Clínicas do CFF, e Fabiano Queiróz, diretor de uma empresa fabricante de autotestes e testes rápidos.

Mauren Isfer salientou que as notícias de que até o refrigerante dá resultado positivo para Covid-19 não desabonam ou desacreditam os testes. Elas apenas comprovam que o teste foi aplicado da forma errada. Para funcionar, estes dispositivos devem ter o seu modo de uso seguido à risca, como uma receita de bolo. “Caso contrário, vai dar um falso resultado”, alertou. A experiência com Coca-Cola foi feita por um parlamentar austríaco, que publicou o vídeo na internet, na tentativa de desacreditar a testagem em massa. A experiência equivocada foi feita também por outras pessoas utilizando água de torneira e limão.

O teste foi elaborado para analisar amostras de secreção nasal coletadas por swab, cotonete de haste comprida. “Qualquer outra substância muito ácida utilizada no lugar, pelo seu pH baixo, poderá apresentar um resultado falsamente positivo, mas isso não significa que esteja correto”, alertou. Mauren Isfer destaca a grande responsabilidade que o usuário deve ter ao utilizar o autoteste, porque a sua conduta será determinante para o resultado. “Se está escrito que o usuário deve pingar duas gotas de solução no dispositivo, são duas gotas, e não três. Se está escrito que ele deve esperar 15 minutos, são 15 minutos, e não dez”.

Na live, foram abordados os pontos mais relevantes da RDC nº 595/2022, da Anvisa, que autorizou o uso de autotestes no país. A resolução diz, por exemplo, que o autoteste não oferece resultado conclusivo, para diagnóstico. Isso significa que os resultados negativos do autotestes não descartam a infecção pelo SARS-Cov2 e que os resultados positivos devem ser, necessariamente, confirmados por meio de teste RT-PCR. Os resultados do autoteste também não valem como justificativa para o afastamento do trabalho, além de não servirem para serem apresentados em viagens.

Outra questão importante diz respeito à comercialização dos autotestes, que foi liberada apenas para farmácias e distribuidoras, sendo que estas últimas apenas podem revender o produto para outros estabelecimentos, e não diretamente ao usuário. “Não está autorizada a venda pela internet a não ser por sites de farmácias legalmente estabelecidas, com farmacêutico presente durante todo o funcionamento da loja física do estabelecimento”, comenta Mauren. Também é proibida a venda de testes de uso profissional como autotestes.

A preocupação com a qualidade dos autotestes foi reiterada pelo farmacêutico Jorge Terrão. Em relação a esse aspecto, Mauren Isfer destacou que, conforme estabelecido pela RDC da Anvisa, somente será autorizada a comercialização de autotestes mediante registro na agência, após análise do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS). Fabiano Queiróz destacou que a indústria está atenta à qualidade, e que as dificuldades, com a baixa qualidade dos insumos, ocorreram no início da pandemia. Mas teriam se ajustado pelas medidas de controle de qualidade adotadas à época e também graças a uma seleção natural feita pela própria concorrência, que acaba excluindo quem não tem know-how.

Jorge Terrão abordou as diferenças entre os autotestes de Covid-19 e os demais testes disponíveis no mercado (veja infográfico). Ele salientou que o RT-PCR é o teste “padrão ouro” para o diagnóstico da doença, e que todos os outros testes têm a sua especificidade e sensibilidade medidas a partir do desempenho deste teste. “Se eu digo que um teste tem 90% de especificidade é porque ele tem 90% de especificidade em comparação com o RT-PCR”, observou. Jorge Terrão ressaltou que o teste de antígeno tem cumprido um importante papel na pandemia, de possibilitar o isolamento das pessoas sob suspeita, porque possibilita a obtenção de um resultado mais rápido. O farmacêutico também ressaltou que o teste para anticorpos IgM e IgG jamais deve ser utilizado para fins diagnósticos, pois não cumpre esse papel, assim como o autoteste. Sobre este, em especial, ele destacou a importância de o usuário seguir as orientações do fabricante e, no caso de resultado positivo, buscar o serviço de saúde.

 



Infográfico apresentado pelo farmacêutico Jorge Terrão duante a live



Durante a live, foram informadas as medidas adotadas pelo CFF no sentido de resolver problemas graves como o não pagamento de adicional de insalubridade e não fornecimento de equipamentos de proteção individual aos farmacêuticos que estão na ponta, realizando os autotestes. O conselho tratou da questão em sua última reunião plenária e vai se reunir com federações e sindicatos de farmacêuticos para elaborar um documento que será encaminhado ao Ministério Público do Trabalho com pedido de providências. A medida visa reverter a situação e proporcionar condições de trabalho e respeito aos direitos e prerrogativas dos farmacêuticos.

O CFF informou ter defendido, no Ministério da Saúde e na Anvisa, que os autotestes fossem incluídos na Política Nacional de Testagem, com distribuição gratuita ou subsidiada por meio do programa Aqui Tem Farmácia Popular. E que a medida contemplasse também os testes rápidos, para quem tivesse limitação para realizar o autoexame. A proposta foi elogiada, mas não foi considerada. “Diante disso, o CFF reitera o importantíssimo papel do farmacêutico, mesmo neste cenário de acesso apenas para privilegiados que têm condições de pagar. Os farmacêuticos estarão na ponta e serão fundamentais na orientação sobre o uso correto desses produtos, para que eles possam, de fato, cumprir o papel de garantir a triagem dos casos suspeitos e contribuir na contenção da pandemia”, salientou a moderadora, Elaine Baptista.

  
Assista à live na íntegra: