Farmacêutico da USP criou medicamento e relata retornos financeiros para a Universidade
Formulação evita enjoos e náuseas e rendeu R$ 30 milhões desde início da comercialização, em 2005
Em meados de 2004, o farmacêutico e professor Humberto Ferraz desenvolveu um medicamento no laboratório de Farmacotécnica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP) para controlar sintomas de náuseas e vômitos induzidos por alguns tratamentos como quimioterapia ou radioterapia. No ano seguinte, a fórmula foi patenteada e o Vonau foi disponibilizado para o mercado. Desde então, a descoberta vem oferecendo retorno financeiro à Universidade, valor próximo de R$ 30 milhões ao longo desses anos, informou o pesquisador em entrevista ao Poder360.
Apenas nos últimos 5 anos, o total em royalties para a USP oriundo da comercialização do comprimido do tipo orodispersível foi de R$ 17,3 milhões. “Eu trabalho com formulações, criando produtos novos e sempre buscando parceiros para levá-los ao mercado e esse recurso, em específico, tem ajudado muito a manter as atividades de pesquisa”, destacou o cientista.
O medicamento também é indicado para a prevenção de enjoos após operações e apresenta como diferenciais a possibilidade de ser ingerido sem o consumo de água e de não provocar sono nos pacientes, além de poder ser recomendado para adultos ou crianças. "Um comprimido orodispersível é muito interessante para o paciente, pois ele não necessita de água ou outro líquido para ser administrado. Basta colocar o comprimido na boca e a saliva se encarrega de dispersar o comprimido, que pode ser, então, ingerido em cerca de 20 – 30 segundos".
Para formular um fármaco como este, o professor atribui o grande desafio ao sabor, que pode ser bastante desagradável, o que exigiu um trabalho relativamente árduo. "Outro aspecto é manter, ao longo do prazo de validade do produto, um tempo de desintegração tão rápido na boca. Mas é exatamente isso que torna interessante o trabalho do farmacêutico formulador".
A fórmula foi criada pelo hoje diretor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP em parceria com uma empresa farmacêutica e demorou 13 anos e meio para ter a patente concedida pelo INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). “Esse é um problema que temos no Brasil: a demora na concessão das patentes. Se pensar nos EUA, uma patente sai em pouco mais de um ano. Apesar dessa dificuldade, a empresa parceira não desistiu do processo e conseguimos levar o produto ao mercado”. A empresa e a universidade são as titulares da patente.
O farmacêutico também cita que essa ligação com a iniciativa privada é outro diferencial do medicamento. "O laboratório foi criado especialmente para apoiar a indústria farmacêutica. A Universidade de São Paulo fez a parceria para poder criar isso. Então, nós temos que estar em contato com a iniciativa privada para tentar colocar essas criações no mercado”, acredita. “Se nós tivéssemos uma maior interação entre as universidades e as empresas, eu acho teríamos muito mais exemplos de Vonau”, acrescentou Ferraz.
O especialista confirma, ainda, que o medicamento também pode ser indicado com o mesmo propósito a pessoas que viajam de carro ou navio e sente sintomas de náuseas e vômitos.