Farmacêutico narra em livro trajetória de luta contra a Síndrome de Guillain-Barré

Em obra recentemente publicada, Ricardo Murça descreve vivências como paciente da SGB no Hospital das Clínicas de São Paulo

Image description

O farmacêutico terapeuta holístico e escritor Ricardo Murça de Oliveira João, que em setembro de 2022, foi diagnosticado com a Síndrome de Guillain-Barré, é autor do livro Um surto de possibilidades: a trajetória de luta contra a Síndrome de Guillain-Barré (SGB). A obra descreve a trajetória de luta, com relatos reais vivenciados como paciente no Hospital das Clínicas de São Paulo (HCSP) e adiciona informações técnicas organizadas de forma a auxiliar o leitor na compreensão da SGB.

Ricardo Murça conta que, em menos de 24 horas, a doença rara e autoimune o deixou completamente paralisado do pescoço para baixo, justo em um momento pleno de sua vida, tanto em relação à família, como aos estudos, trabalho e renda. “Foi uma freada brusca em que tudo parou, assim, do nada, num flash. Do lado de fora do hospital, amigos e familiares se perguntavam sobre o que era essa doença”, relata.

O livro foi organizado por meio de experiências, informações, conhecimento e pesquisas de mais de 19 anos como escritor e profissional de saúde. Reúne temas como superação, autoconhecimento, resiliência, resignação e empatia. Ricardo Murça foi internado, perfurado, examinado e intubado. Durante a intubação teve uma tromboembolia pulmonar e quase foi levado dessa vida. 

 

O farmacêutico terapeuta holístico e escritor Ricardo Murça de Oliveira João

 

Na UTI, desenvolveu infecção pulmonar e mais uma síndrome rara, a Síndrome de Ogilvie e, por pouco, não passou por cirurgia. Foi traqueostomizado e teve episódios psiquiátricos graves em função dos medicamentos. Sua esposa passou, do dia para a noite, a liderar sozinha a família de três filhos, cercada de incertezas e sentindo o mundo pesar sobre as costas.

Uma das empresas que Ricardo trabalhava rescindiu seu contrato sem lhe dar a opção do afastamento pelo INSS. A filha de seis anos de idade oscilava entre a ansiedade e a depressão e mal conseguia ir para a escola. O sogro e a sogra, que os apoiavam, sentiam o estresse e o cansaço da vida na capital paulista. Amigos e familiares se revezavam para as visitas, no intuito de levar apoio e acompanhar a evolução do quadro clínico.

O farmacêutico relata que vários ecossistemas foram tirados do eixo. “Foram mais de 70 dias de luta entre a fase aguda e a primeira fase de reabilitação, em um sobe e desce de piora e melhora, que parecia que duraria muito, mas muito tempo”. O prognóstico era de sequelas, de voltar a andar, a partir de um ano, e de um horizonte de incertezas. Os relatos eram de uma recuperação possível, mas lenta e demorada. 

Ricardo Murça sentia dor, tonturas, inchaços, musculatura flácida e muito reduzida. Precisava de ajuda para quase tudo. Mas com força, buscava motivação e manter a consciência plena, quando o jogo começou a virar e, ele, que estava totalmente dependente, voltou para casa, descansou e retornou ao seu ambiente, o que o ajudou e realinhar seus pensamentos. “Não conseguia enxergar uma vida improdutiva, dependente, longe da minha família, amigos e trabalho, ou seja, daquilo que mais amo”, relembra.

Hoje, entre uma sessão e outra de fisioterapia, Ricardo presenteia a todos com esse livro repleto de lições de superação, amor, motivação, determinação, resiliência e da importância do autoconhecimento.  “Estou andando, trabalho, dirijo, cuido dos meus filhos e da minha casa, resolvo problemas e apoio a minha esposa, fazendo voltar a girar a roda desse engenho maluco que é a nossa existência na terra”, diz o autor.

Ricardo Murça diz que não está plenamente recuperado e sabe que ainda tem um caminho longo pela frente. Mas convida a todos para mergulhar na leitura de seu livro e experimentar uma verdadeira jornada de aprendizado, amor e superação. “Voltei ao normal? Na verdade, hoje tenho um novo normal, com possibilidades e muitas mudanças. Foi preciso perseverança, foco, resiliência, amor, buscar motivação e focar na superação dos obstáculos que pareciam não ter fim”. 

Sobre o autor

Ricardo Murça de Oliveira João tem 45 anos de idade, é casado e pai de duas filhas e um filho. Nasceu em Santos (SP) e mora na Zona Norte de São Paulo. Graduou-se em Farmácia, em 2003, e sempre gostou de escrever. Começou a trabalhar, formalmente, aos 16 anos de idade em drogarias, farmácias de bairro. Estudou Neurolinguística (PNL), fez pós-graduação em Administração, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), e em Gestão da Qualidade, pela FGV e Fundação Vanzolini. 

Atualmente, Ricardo trabalha como terapeuta holístico, é palestrante, atua como farmacêutico na área de distribuição e transportes e segue se desenvolvendo como escritor. “Caminho em reabilitação, mas já trabalhando e de volta às atividades presenciais, além de promover minha militância em causas sociais. Se por meio do meu trabalho eu conseguir promover um “dedinho” que seja de um mundo melhor, morrerei trabalhando, escrevendo e ajudando pessoas a terem qualidade de vida”, ressalta o autor.

Sobre a atuação do farmacêutico nas doenças raras

De acordo com Ricardo Murça, somente para se ter uma ideia são, aproximadamente, 7 mil doenças raras relatadas na literatura médica, e ele afirma já ter lido algo sobre 8 a 9 mil doenças raras. “São cerca de 13 milhões de pessoas que convivem, atualmente, no Brasil, com uma ou mais de uma doença rara”. Sabendo que a farmácia e a drogaria são, por vezes, uma porta de entrada importante para diversas pessoas antes de chegar à atenção primária, o farmacêutico tem, ali, um papel fundamental na orientação e condução do paciente para as melhores escolhas.

O farmacêutico escritor explica que caso o paciente já conheça sua doença e realize um tratamento, caberá ao farmacêutico fazer o acompanhamento, com análise de efeitos colaterais ou eventos adversos, dentre outras abordagens possíveis. “Já àqueles que não sabem que possuem uma doença rara, mas que, frequentemente, apresentem sintomas indicativos de algo a ser investigado, caberá ao farmacêutico uma orientação quanto ao tipo de unidade de saúde e profissional a serem buscados pelo paciente”.

Ainda segundo Murça, na área hospitalar, o farmacêutico pode desenvolver competências para apoiar a equipe de saúde no diagnóstico e tratamento, assim como na área de pesquisa clínica, onde diversos fármacos são estudados. “Há uma grande possibilidade de sucesso para o farmacêutico que se interessar em atuar com doenças raras, sendo igualmente raro, um profissional com tais conhecimentos”, destaca.

Em São Paulo, o Conselho Regional de Farmácia (CRF-SP) mantém o GTT Cuidado Farmacêutico em Doenças Raras, sob a liderança do farmacêutico Raphael Boiati.