Farmacêutica é premiada por pesquisa na área oncológica
Tathiane Maistro Malta, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, estuda formas de individualizar tratamento de tumor raro no sistema nervoso
O sonho de cursar Farmácia na Universidade de São Paulo (USP) fez Tathiane Maistro Malta deixar sua cidade natal, Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, em 2002. Foi quando passou na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), onde se formou em 2006. "Sempre me interessei por ciência, desde criança tinha curiosidade em saber como as coisas funcionam e testar coisas", conta Tathiane, que descobriu afinidade pela área biológica e viu na faculdade de Farmácia um amplo leque de possibilidades de atuação profissional. "Durante o curso, eu me interessei muito pela pesquisa e tive oportunidade de fazer iniciação científica. Nunca mais parei!". A farmacêutica seguiu seus estudos com um mestrado e doutorado em Ciências na mesma universidade.
Há quase dez anos, deu início à investigação de gliomas, tipo específico de câncer no sistema nervoso. O trabalho começou quando a cientista, de 39 anos, fazia pós-doutorado na Faculdade de Medicina da USP. A pesquisa se baseia no mapeamento genético das células cerebrais afetadas com o câncer para entender como aplicar métodos mais precisos de terapia para cada paciente. “Os gliomas são tumores cerebrais bastante agressivos, sem cura, e com poucas opções de tratamento atualmente. Meu foco é olhar para o DNA e para o RNA das células tumorais e também de células não-tumorais para identificar as alterações que fazem os tumores serem mais ou menos agressivos e resistirem ao tratamento", explica.
As descobertas da farmacêutica sobre os gliomas podem auxiliar no diagnóstico do paciente e no manejo clínico mais adequado. “É o que chamamos de ‘medicina de precisão’, que significa individualizar o tratamento para cada paciente. E só podemos fazer uma medicina de precisão se antes tivermos estudos que identificam essas alterações genéticas e moleculares e entendermos o que elas representam”.
A pesquisa sobre esse tipo raro e agressivo de tumor rendeu a Dra. Tathiane o prêmio do programa Para Mulheres na Ciência 2022, promovido pela L’Oréal Brasil, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e Academia Brasileira de Ciências (ABC). O valor da bolsa vai ser usado para financiar a sequência da pesquisa.
Tratamento individualizado
A farmacêutica destaca que estamos em uma era em que os profissionais da saúde desejam fazer uma medicina ou um tratamento de precisão, individualizado, não só em oncologia, mas o tratamento do câncer em geral. "É uma área que estamos aprendendo na prática que não funciona igualmente em todos os pacientes. Os tumores têm evolução genética muitas vezes distintas entre os pacientes, mesmo que se originaram no mesmo tecido. E precisamos entender como acontece essa evolução genética e molecular para que possamos desenvolver estratégias terapêuticas eficazes e seguras. Certamente que precisamos de muitas expertises para acelerar as descobertas", afirma.
Segundo ela, pesquisadores de bancada, pesquisadores clínicos, médicos e demais profissionais que assistem os pacientes devem alinhar para a identificação das necessidades clínicas, organizar a coleta de dados e amostras, viabilizar e interpretar experimentos e discutir o potencial das descobertas. "É todo um ciclo que só funciona bem com a integração dos diferentes profissionais. E o farmacêutico tem um potencial muito grande de contribuir tanto na fase de pesquisa básica quanto na pesquisa clínica. Temos uma formação que nos dá uma visão bastante ampla da oncologia, desde os princípios básicos da fisiopatologia até o acompanhamento clínico e evolução do paciente", destaca.
Paixão
Ao longo de sua trajetória enquanto pesquisadora, Tathiane Malta estudou diversos assuntos como infecções virais, células-tronco, sistema imunológico, etc. Mas a maior parte de sua pesquisa foi baseada nesse estudo sobre o câncer e os mecanismos que levam uma célula normal a se transformar em uma célula maligna, no pós-doutorado. "Atualmente, enquanto coordenadora de grupo de pesquisa, essa é a área que me motiva a estudar e a razão é o potencial de fazer a diferença na vida dos pacientes. A possibilidade de eu poder contribuir com o avanço do conhecimento e poder impactar a vida dos pacientes com câncer é o que faz meu coração bater e me motiva a continuar minha pesquisa. Eu realmente gostaria de um dia saber que contribui para prolongar a vida ou contribui para dar mais qualidade de vida ao paciente com câncer. É isso que realmente me move".
Reconhecimento
A equipe da Dra. Tathiane é composta por dois farmacêuticos, uma biológa, um informata biomédico e um químico, que são alunos de pós-graduação e graduação e que contribuem nos projetos. Como coordenadora, a farmacêutica analise a premiação como extremamente positiva ao andamento da pesquisa."Esse prêmio tem muito significado para mim. Em primeiro lugar, é uma dose importantíssima de ânimo e de motivação, uma sensação de valorização do meu trabalho. Além disso, eu acredito que o prêmio vai trazer grandes oportunidades de colaboração e de captação de recursos para a continuidade dos nossos projetos. Por fim, eu espero que esse prêmio traga visibilidade para minha linha de pesquisa e para a atração de jovens talentos para a área científica e para o meu grupo de pesquisa. Especialmente para meninas que desejam ser cientistas, elas precisam saber que é possível, que é gratificante, que é uma opção real".
Sobre a sua contribuição para a ciência, Tathiane se diz satisfeita em ver seus trabalhos serem publicados e o reflexo positivo na formação de alunos. "Eu gosto muito do que eu faço e pretendo continuar trabalhando nessa área. Eu já vejo o impacto e a satisfação dos meus alunos em trabalhar nesse projeto", finaliza.