Desinformação na TV: Sim, bebida alcoólica pode cortar efeito do antibiótico!

Entrevista concedida em abril pela médica alergista e imunologista Ekaterini Goudouris ao programa Sem Censura, da TV Brasil, está causando polêmica nas redes sociais

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A médica alergista e imunologista, Ekaterini Goudouri, afirmou que bebida alcoólica não corta o efeito do antibiótico! Para responder de forma correta a pergunta feita pelos jornalistas, convidamos farmacêutica Dra. Carolina Xaubet Cebrim, da nossa Coordenação Técnica e Científica (CTECT).

Dra. Carolina explica que não só o álcool pode alterar o processo de biotransformação e os efeitos farmacológicos de muitos medicamentos comuns, como, inversamente, muitos medicamentos podem alterar a absorção e a biotransformação do álcool.

“As potenciais interações dos antimicrobianos com o álcool são consideradas em três categorias, as quais têm implicações para o paciente”, comenta. Conforme a farmacêutica, podem ocorrer alterações na farmacocinética e na farmacodinâmica do antimicrobiano e/ou nos efeitos do álcool; alterações na eficácia do antimicrobiano, e desenvolvimento ou aumento da toxicidade dos medicamentos com consequentes efeitos adversos.

“Além disso, a ingestão de álcool, de forma aguda e em grande quantidade, pode inibir o metabolismo de alguns fármacos”, acrescenta. “Por outro lado, o uso frequente de álcool pode aumentar a indução de enzimas no fígado envolvidas na biotransformação de certos fármacos.”

Em relação aos antimicrobianos, de acordo com Dra. Carolina, devem ser verificadas as interações do álcool com o fármaco específico. A farmacêutica lembra que outros fatores precisam ser considerados, como por exemplo, a idade. “Pessoas com 65 anos ou mais têm risco particularmente elevado de sofrer danos, em parte devido às alterações na sua fisiologia relacionadas com a idade e, em parte, ao uso geralmente aumentado de medicamentos que podem interagir com o álcool”, orienta.

Dra. Carolina destaca que não se deve generalizar e que o recomendado é analisar caso a caso. “E, na dúvida, consultar o farmacêutico, que é o profissional habilitado para responder sobre o assunto”, destaca. Ela frisa que o conhecimento dos profissionais da saúde acerca das possíveis consequências da administração de antimicrobianos por usuários de bebidas alcóolicas é importante para promover a segurança do paciente.

Nota oficial 

O álcool pode alterar o processo de biotransformação e os efeitos farmacológicos de muitos medicamentos comuns e, inversamente, muitos medicamentos podem alterar a absorção e a biotransformação do álcool.

As potenciais interações dos antimicrobianos com o álcool são consideradas em três categorias, as quais têm implicações para o paciente: (i) alterações na farmacocinética e na farmacodinâmica do antimicrobiano e/ou nos efeitos do álcool, (ii) alterações na eficácia do antimicrobiano, e (iii) desenvolvimento ou aumento da toxicidade dos
medicamentos com consequentes efeitos adversos.

A ingestão de álcool, de forma aguda e em grande quantidade, pode inibir o metabolismo de alguns fármacos; por outro lado, o uso frequente de álcool pode aumentar a indução de enzimas no fígado envolvidas na biotransformação de certos fármacos.

Em relação aos antimicrobianos, devem ser verificadas as interações do álcool com o fármaco específico. Por exemplos:

O uso de certos antimicrobianos, como a amoxicilina, azitromicina, penicilina e tetraciclina, não motivam contraindicação formal ao consumo de álcool em pequenas doses, mas não significa que a associação seja totalmente segura.

A ingestão de álcool ou o uso de medicamento que contenha álcool em sua formulação, em associação ao metronidazol, é contraindicada porque pode aumentar o risco de reação semelhante ao dissulfiram (efeito antabuse).  O consumo de etanol, sob qualquer forma (por exemplo, bebidas alcóolicas e preparações que contenham etanol ou propilenoglicol), durante e até três dias após ter descontinuado o tratamento com metronidazol, pode causar o efeito antabuse, com aparecimento de rubor (vermelhidão), vômito e taquicardia (aceleração do ritmo cardíaco).

Obs.: a reação semelhante ao dissulfiram, embora classicamente associada ao metronidazol, ocorre com frequência incerta e com gravidade variada de indivíduo para indivíduo.

A eritromicina pode ter eficácia reduzida com o consumo de álcool e a doxiciclina pode ter eficácia reduzida no alcoolismo crônico.
O uso de álcool é contraindicado por pacientes que estão em tratamento com isoniazida devido ao potencial aditivo de toxicidade hepática e risco de efeitos adversos.
O álcool deve ser evitado ao tomar certas cefalosporinas (como por ex., ceftriaxona), cetoconazol ou griseofulvina. O uso destes antimicrobianos com álcool pode causar toxicidade hepática e efeitosadversos.

Outros fatores precisam ser considerados, como por exemplo, a idade. Pessoas com 65 anos ou mais têm risco particularmente elevado de sofrer danos, em parte devido às alterações na sua fisiologia relacionadas com a idade e, em parte, ao uso geralmente aumentado de medicamentos que podem interagir com o álcool.

O conhecimento dos profissionais da saúde acerca das possíveis consequências da administração de antimicrobianos por usuários de bebidas alcóolicas é importante para promover a segurança do paciente.

É preciso analisar caso a caso. Em caso de dúvida, consulte o farmacêutico.

Para mais informações sobre interações álcool-medicamentos acesse:

The Healthcare Professional's Core Resource on Alcohol disponível em: 

https://www.niaaa.nih.gov/health-professionals-communities/core-resource-on-alcohol/alcohol-medication-interactions-potentially-dangerous-mixes

Lista validada pelo consenso de 2017 [PDF – 295 KB] de interações potencialmente graves entre álcool e medicamentos em idosos disponível em: https://www.niaaa.nih.gov/sites/default/files/potentially-serious-alcohol-medication-interactions-in-older-adults.pdf

Referências

Micromedex® DRUGDEX® (electronic version). IBM Watson Health, Greenwood Village, Colorado, USA. Disponível em: https://www.micromedexsolutions.com  

Martindale: The Complete Drug Reference [Internet]. London: The Royal Pharmaceutical Society of Great Britain. Electronic version, IBM Micromedex, Greenwood Village, Colorado, USA. Disponível em: http://www.micromedexsolutions.com/

Mergenhagen KA, Wattengel BA, Skelly MK, Clark CM, Russo TA. Fact versus Fiction: a Review of the Evidence behind Alcohol and Antibiotic Interactions. Antimicrob Agents Chemother. 2020; 64(3): e02167-19. doi: 10.1128/AAC.02167-19

National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism - NIH. The Healthcare Professional's Core Resource on Alcohol. disponível em:

https://www.niaaa.nih.gov/health-professionals-communities/core-resource-on-alcohol/alcohol-medication-interactions-potentially-dangerous-mixes

Traccis F, Presciuttini R, Pani PP, Sinclair JMA, Leggio L, Agabio R.Alcohol-medication interactions: A systematic review and meta-analysis of placebo-controlled trials. Neuroscience & Biobehavioral Reviews. 2022; 132: 519-541. https://doi.org/10.1016/j.neubiorev.2021.11.019.