CFF deve realizar pesquisa nacional sobre violência e assédio à mulher

A intenção foi anunciada na Reunião Plenária, durante a qual a conselheira suplente por Minas Gerais, Elaine Baptista, apresentou pesquisa sobre violência às farmacêuticas

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A três semanas do Dia Internacional da Mulher, o Plenário do Conselho Federal de Farmácia debateu mais uma pauta do #CFFInclusivo.  A suplente de conselheira federal de Farmácia pelo estado de Minas Gerais, Elaine Baptista, apresentou um resumo da pesquisa de sua dissertação de mestrado, que teve como foco as “Múltiplas violências vivenciadas por farmacêuticas no ambiente laboral”. Entre as informações destacadas do estudo qualitativo, relatos de abusos e de assédio de toda a natureza por mulheres farmacêuticas que atuam em farmácias, hospitais e outros estabelecimentos de saúde. 

Desenvolvido dentro do Programa de Pós-Graduação em Assistência Farmacêutica da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais, o trabalho mostra que, embora representem 70% da força de trabalho, menos de 25% das mulheres ocupam postos de liderança. “Elas continuam sendo vítimas da nefasta divisão sexual do trabalho, que tem como princípios norteadores a hierarquização (o trabalho masculino é mais valorizado) e a separação (entre trabalho de homens e trabalho de mulheres). E sofrem violência psicológica, assédio moral e sexual, e violência física e sexual”, relata Elaine Baptista, que foi orientada na pesquisa pela Dra. Mariana Martins Gonzaga e co-orientada pela Dra. Isabela Viana Oliveira.

Alguns relatos colhidos nos depoimentos das farmacêuticas entrevistadas na pesquisa, chocam: “Fui chamada de burra perante um cliente pelo meu chefe”, diz uma entrevistada. “Pacientes que não te respeitam ou te afrontam, simplesmente porque você é mulher”... “Gritam para nos intimidar só pelo fato de sermos mulheres”, comenta a outra. “Na aplicação de injetáveis, o pênis do paciente ficou totalmente ereto ao abaixar totalmente a bermuda para a aplicação do injetável, sem necessidade alguma”, confessa uma terceira. “Todo o tempo somos questionadas quanto nosso estado hormonal. Se fala firme: hormônio. Se é humanizada em condutas: hormônio. Se não sorri: hormônio”, reclama outra. 

Para Elaine Baptista, a evolução da profissão farmacêutica perpassa pela discussão sobre o gênero. “Temos uma profissão de maioria feminina! É urgente a discussão coletiva entre instituições, para traçarmos estratégias de enfrentamento do problema e proporcionar um ambiente de trabalho seguro para farmacêuticas”, destaca. Elaine Baptista considera a situação preocupante pois impacta na saúde das trabalhadoras, além de comprometer o desempenho das instituições que as empregam. “Precisamos discutir assédio moral e sexual, cultura do estupro, respeito a maternidade, equidade salarial, discriminação de gênero, entre outros aspectos retratados nessa dissertação e que vão muito além dela”, sentencia.

Ao final da apresentação vários conselheiros manifestaram seu reconhecimento ao trabalho da pesquisadora. O conselheiro federal de Farmácia pelo estado de Rondônia, chamou a atenção para a necessidade de conhecer a realidade dentro do Sistema CFF/CRFs especialmente quanto à participação política das mulheres, visto que a maioria da categoria é feminina. A conselheira regional de Farmácia do Pará, Daniele Abrahão, presente à Plenária, pediu a palavra para comentar o estudo e se emocionou ao relatar a luta das mulheres por respeito. Ela anunciou a realização, no dia 9 de março, do I Encontro Empodera Mulher Farmacêutica, que está sendo organizado por um grupo de cerca de 200 mulheres de seu estado.

O Conselho Federal de Farmácia está em tratativas para que o estudo realizado em Minas Gerais seja ampliado, com o objetivo de compreender melhor o problema e suas repercussões em nível nacional. A pesquisa deverá ser lançada em março, como parte da campanha do conselho pelo Dia Internacional da Mulher, que este ano terá como tema o combate à violência e todo tipo de assédio à mulher, seja em casa ou no trabalho. “Essa é uma causa prioritária para o CFF, que desde 2020 integra e apoia a campanha Sinal Vermelho, voltada à participação das farmácias e dos farmacêuticos nessa luta. Não podemos nos omitir em um contexto em que mulheres continuam sendo subjugadas em seus direitos e assinadas, como a farmacêutica Yasminne, vítima de feminicídio, no Rio de Janeiro”, destaca Walter Jorge João.