Farmacêutico alerta sobre os riscos da cocaína rosa, usada por modelo que caiu de prédio
Maior perigo está relacionado à mistura de substâncias, que aumenta o risco e a gravidade de intoxicações
A imprensa da argentina noticiou que autopsia da modelo brasileira Emmily Rodrigues, de 26 anos, morta no dia 30 de março após cair do sexto andar de um edifício, em Buenos Aires, apontou o uso do entorpecente “cocaína rosa” ou “tuci”, antes do acidente. Ela estava no apartamento do empresário Francisco Sáenz Valiente, 52. Mas o que é a cocaína rosa e quais os efeitos que a droga causa? Quem responde é o farmacêutico José Roberto Santin, presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia (SBTOX) e coordenador do Grupo de Trabalho (GT) de toxicologia do CFF.
José Roberto Santin explica que a cocaína rosa não tem ligação alguma com a cocaína branca. “Essa droga surgiu nos anos 70, com outro nome. Ela era conhecida como 2C-B ou Two-C, pela pronúncia em inglês do número 2 e da letra C. Aqui o termo foi abrasileirado para tuci. É uma droga sintética, com efeito estimulante, despersonalizante e eufórico, semelhantes ao do LSD e do Ecstasy”, comenta. Assim como a cocaína branca, ela pode ser encontrada em “pó” e gera uma euforia inicial, o que motivou o apelido comum.
“O efeito estimulante e as alucinações são decorrentes da presença de metanfetamina e/ou LSD”, diz José Roberto Santin. Segundo ele, a cocaína rosa é diferente da comum. Depois do consumo, a pessoa pode se sentir animada, mas, com o tempo, essa agitação evolui para as alucinações, que aumentam o risco de acidentes. “Pode ter ocorrido com a modelo brasileira morta na Argentina. O usuário está sujeito a ver e fazer coisas extremas, sem noção exata da realidade ao seu redor”, lembra.
Além de causar alucinações, a cocaína rosa pode provocar hipertensão, hipertermia e desidratação. “Em doses extremas, o uso pode levar à sobrecarga do coração, causando infarto”, alerta. A cocaína rosa causa dependência, e seu excesso pode provocar overdose.
Conforme José Roberto Santin, o mais importante a ser destacado sobre a droga é a sua composição. “Relatórios da UNODC, que é o escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, demonstram que algumas amostras de drogas vendidas com o nome de cocaína rosa continham uma mistura de quetamina, um anestésico, MDMA, o Ecstasy, e cafeína. Na Argentina foi reportada a mistura de LSD e MDMA.”
Segundo José Roberto Santin, dados sobre intoxicações com drogas sintéticas no Brasil apontam quantidades relativamente altas de substâncias psicoativas no organismo das pessoas, em média, três ou mais substâncias. Existem relatos de casos com até 7 substâncias diferentes. Esse coquetel de substâncias pode ser ainda mais nocivo à saúde, potencializando o risco e a gravidade das intoxicações.
“Nesse contexto é importante deixar uma alerta para a população: os usuários da maior parte das drogas sintéticas não sabem o que estão consumindo. Pode ser uma substância psicoativa nova, desconhecida, ou até mesmo uma mistura de substâncias, que pode aumentar a toxicidade”, comenta.
Embora circule com maior frequência na Argentina, na Colômbia e em alguns países da Europa, há registros de apreensões no Brasil desde 2021. No final deste ano, investigadores da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), da Polícia Civil do Distrito Federal, encontraram a Pink Powder ou, na tradução livre, cocaína rosa, com um suspeito de distribuir o entorpecente em diversos pontos da capital federal, inclusive na Esplanada dos Ministérios.
O acusado levava três quilos de cocaína – comum e rosa –, armas de fogo, munições, reais, euros, dólares e pesos argentinos, além de relógios, joias e um livro de contabilidade, máquina para pagamento de cartões, dois automóveis e uma motocicleta. Não por acaso. A cocaína rosa é uma droga que está relacionada mais à classe alta, por ser uma droga sintética, com alto custo de produção.