CFF participa de oficina nacional da assistência farmacêutica na saúde indígena

O evento foi promovido pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

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Teve início nesta terça-feira (25/7) e vai até a próxima sexta-feira (28/7) a Oficina Nacional da Assistência Farmacêutica na Saúde Indígena, na Escola de Governo Fiocruz Brasília (EGF). O evento, promovido pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), teve início às 9 horas com a composição da mesa de abertura, que debateu o tema “A atenção à saúde dos povos indígenas no Brasil”. O Conselho Federal de Farmácia (CFF) compôs a mesa, representado pela coordenadora da Coordenação Técnico-Científica (CTEC) da entidade, Josélia Frade, acompanhada da farmacêutica da CTEC, Carolina Xaubet. 

Em sua fala, Josélia Frade afirmou que o tema central da oficina está muito alinhado às pautas prioritárias do CFF. “Esse debate é essencial e urgente para o enfrentamento da morbimortalidade relacionada a medicamentos que exige integração dos processos de trabalho dos membros da equipe de saúde e de integração de políticas públicas. Acreditamos que os processos de trabalho dos farmacêuticos, sejam eles voltados à gestão logística, cuidado farmacêutico, vacinação ou práticas integrativas agregam valor à saúde da população indígena”.

A representante do CFF agradeceu cada farmacêutico que tem se dedicado à saúde indígena. “Graças ao trabalho de vocês, podemos comemorar hoje os avanços já alcançados e refletir sobre os pontos de melhoria. Nos últimos anos, houve um crescimento no número de farmacêuticos que atuam na saúde indígena e gostaria de aproveitar a oportunidade de agradecer publicamente o deputado federal Alexandre Padilha, que quando na condição de diretor do Departamento de Saúde Indígena da Funasa, impulsionou, apoiou e sempre acreditou na inserção do farmacêutico na saúde indígena”. 

Em seguida, Josélia Frade fez um resgate histórico da área e citou uma entrevista publicada, no final de 2007, na revista Pharmacia Brasileira, com uma das farmacêuticas pioneiras na área da assistência farmacêutica à população indígena, Mônica Maria Henrique dos Santos. Nesta matéria, a Dra. Mônica destacou alguns marcos históricos da área (https://docplayer.com.br/8790441-Entrevista-com-dra-monica-maria-henrique-dos-santos.html).

Entre as participantes, a farmacêutica indígena da cidade de Cruzeiro do Sul, no Acre, Artemízia da Silva Araújo Nukini. Neta de pajé do povo Nukini, atua como responsável técnica pela central de abastecimento farmacêutico do Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Juruá (Dsei-ARJ). “Trabalho na saúde indígena há 12 anos e, atualmente, desenvolvo um trabalho com plantas medicinais, objetivando a valorização do contexto cultural e, assim, fazer a promoção do uso racional de medicamentos junto ao meu povo indígena”.

Artemízia Nukuri é uma das farmacêuticas dentre 34 representantes de distritos sanitários do País, que estão reunidos, em Brasília, para discutirem a relação de medicamentos da saúde indígena e melhorias para a atenção à população indígena. Ela também se inscreveu na programação de experiências exitosas, com um projeto sobre plantas medicinais, que busca a valorização e o resgate nas formas de cura indígenas. “O projeto tem como título Assistência farmacêutica no contexto intercultural na saúde indígena - produção de fármacos a partir de plantas medicinais indígenas”.

A experiência apresentada pela farmacêutica indígena trata-se de um trabalho de capacitação sobre medicina tradicional, realizada pelo programa da assistência farmacêutica do Dsei-ARJ, na aldeia Novo Destino, localizada no município de Marechal Thaumaturgo (AC). “A ideia surgiu da necessidade que eu observei que os indígenas estavam deixando de usar medicamentos tradicionais e utilizando muitos medicamentos industrializados. Então o objetivo foi fortalecer o uso das plantas medicinais entre os pajés, parteiras, agentes indígenas de saúde e farmacêuticos e unir os saberes empíricos adquiridos na floresta com a experiência e a prática para manipulação de medicamentos, remédios e preparos para a cura de doenças, tendo as ervas e árvores nativas da região como elemento principal e valorizarmos nossos ancestrais indígenas”, relatou Artemízia Nukini.

Durante a capacitação foram manipulados diversos medicamentos e remédios como sabonetes para o tratamento de micoses, sabonetes para facilitar a cicatrização de ferimentos, remédios para picada de cobra, repelentes naturais, xaropes naturais, medicamentos para reumatismo, para sintomas da Covid-19, da malária, de inflamações, cálculos renais entre outros. “Com a capacitação dos atores envolvidos, esperamos um maior empoderamento e prática da medicina tradicional, entre os indígenas, em suas comunidades e, consequentemente, um menor uso de medicamentos industrializados, evitando possíveis resistências bacterianas aos antibióticos, explicou a farmacêutica indígena.

Com esse trabalho, Artemízia Nukini afirma que o farmacêutico garante, com maior êxito, a estratégia de diminuir o uso de medicamentos desnecessários entre os indígenas e promove o uso racional de medicamentos. Ela também identificou que no Distrito havia um polo com muitos indígenas com dificuldades de compreender as orientações de uso dos medicamentos. “Criamos um receituário na língua indígena, cujo uso facilita muito o entendimento. Nele tem textos e desenhos que facilitam a compreensão e o uso adequado, como o sol e a lua, que representam que o medicamento deve ser tomado de dia ou à noite”. 

A última mesa, sobre Gestão da Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos no SASISUS, que ocorreu entre as 16h30 e 18 horas, contou com a participação da presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de Goiás (CRF-GO) e coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Saúde Pública do CFF, Lorena Baía Alencar. As atribuições do farmacêutico na saúde indígena foram regulamentadas pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), em 28 de setembro de 2017, com a aprovação da Resolução CFF nº 649/17. Essa norma foi elaborada com a colaboração de farmacêuticos e representantes dos indígenas.