Janeiro Lilás é o mês da visibilidade trans

Farmacêutico, saiba como atender essa população com respeito e assertividade

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A data de 29 de janeiro é o Dia Nacional da Visibilidade Trans. O Janeiro Lilás marca as lutas pela garantia dos direitos das pessoas transsexuais e travestis, que têm seus direitos historicamente negados. Do ponto de vista do acesso à saúde são muitos desafios. Pensando nisso, o GT sobre Cuidado à População LGBTQIAP+ e outras pessoas vulneráveis do Conselho Federal de Farmácia (CFF) preparou uma série de orientações sobre o que farmacêutico deve saber para prestar serviços farmacêuticos a esse público com respeito e assertividade.

De acordo com a farmacêutica Maria Fernanda Barros, integrante do GT, pessoas trans têm muitas das mesmas necessidades de saúde que a população em geral; no entanto, algumas delas também requerem cuidados específicos. “Para que possamos atender dignamente às necessidades das pessoas trans, devemos criar e implementar políticas, contar com pessoal qualificado e garantir ambientes de respeito e qualidade de atendimento”.

A farmacêutica Alícia Krüeger, coordenadora do GT, chama atenção para o fato de que a maior parte dos atendimentos em saúde que as pessoas trans necessitam são atendimentos comuns e podem ser prestados por qualquer profissional em qualquer serviço. No entanto, ela reforça que "o despreparo dos profissionais gera, muitas vezes, atendimentos violentos e que causam ainda mais sofrimento à pessoa que procura acolhimento".

Veja algumas recomendações do GT sobre o Cuidado à População LGBTQIAP+.

 

Primeira orientação:

Farmacêuticos precisam ser sensíveis às questões de identidade de gênero

  • Iniciar entendendo o significado da transgeneridade - a transgeneridade é uma categoria dissidente de gênero. Difere das expectativas da sociedade de como eles deveriam parecer, agir ou se identificar com base no gênero que lhes foi atribuído no nascimento.

  • As pessoas trans são aquelas cuja identidade e expressão de gênero não estão em conformidade com as normas e expectativas impostas pela sociedade em relação ao gênero que lhes foi designado ao nascer, com base em sua genitália. A categoria de pessoas trans é bastante ampla e abarca as mulheres trans, as travestis, os homens trans, pessoas não-bináries (que não se identificam com o gênero masculino, nem com o feminino), dentre outras identidades.

 

Segunda orientação:

As pessoas trans têm sido tradicionalmente estigmatizadas, marginalizadas, abusadas, discriminadas e até submetidas à violência física e emocional. Essas e outras expressões de transfobia devem ser consideradas fatores que impactam a saúde. Também é necessário entender que elas tendem a buscar tratamentos em saúde por meio de automedicação ou cuidados entre si, devido, muitas vezes, às violências que sofrem por parte de profissionais de saúde. Isso pode vulnerabilizar ainda mais essa população.

Principais preocupações com a saúde das pessoas trans:

  • Mulheres trans e travestis - desamparo pela falta de serviços essenciais de saúde e especializados em gênero, como cirurgiões, cuidados pós-operatórios, endocrinologistas, psiquiatras, terapeutas, entre outros. Isolamento, medo, estigma, violência física e rejeição familiar contribuindo para a depressão, ansiedade, automutilação, suicídio e uso indevido de medicamentos.
  • Homens trans - ausência de reconhecimento de suas necessidades enquanto pessoas que precisam de cuidado ginecológico. Ausência de serviços especializados em gênero. Isolamento, medo, estigma, violência física e rejeição familiar contribuindo para a depressão, ansiedade, automutilação, suicídio e uso indevido de medicamentos.

  • Pessoas não-bináreis - não reconhecimento de suas identidades e de suas necessidades em saúde específicas, de acordo com seu corpo, uso ou não de hormônios, entre outras questões. Ausência de serviços especializados em gênero. Isolamento, medo, estigma, violência física e rejeição familiar, contribuindo para a depressão, ansiedade, automutilação, suicídio e uso indevido de medicamentos.

 

Terceira orientação:

Há uma série de ações, relativamente simples, que podem ser feitas em um serviço farmacêutico para deixar as pessoas trans mais confortáveis:

  • Respeite o nome social e o pronome escolhido pela pessoa;

  • Caso haja essa possibilidade, ofereça banheiros com gênero neutro. Essa medida é fundamental que a pessoa seja respeitada em seu direito de utilizar o banheiro de acordo com o seu gênero;

  • Deixar um espaço em branco após a pergunta sobre gênero ou oferecer a opção pessoa trans (homem trans, mulher trans ou travesti, pessoa não binária e outros) nos formulários usados no serviço, adicionar uma imagem com as informações;

  • Gênero/identidade de gênero:
    (  ) Mulher cis (  ) Mulher trans/travesti (  ) Homem cis (  ) Homem trans (  ) Pessoa Não Binária  (  ) Outro

  • Preferir utilizar linguagem de gênero neutro ao perguntar sobre o histórico sexual ou de relacionamento de um paciente.

 

Quarta orientação:

É necessário ter atenção aos cuidados em saúde relacionados à transição de gênero – projetados para alinhar características físicas com identidade de gênero. Podem incluir hormonização, redesignação de gênero, cirurgia de mama ou tórax, histerectomia ou harmonização facial. Pessoas trans também podem ter necessidades de saúde únicas em relação a cuidados reprodutivos, cuidados ginecológicos e urológicos e serviços de saúde mental.

Recomendações:

  • Farmacêuticos devem estar preparados para atender pessoas trans;

  • O ideal seria que todas as pessoas trans que desejam usar hormônios pudessem fazê-lo sob a supervisão de um médico para prescrever uma dose adequada e monitorar seus efeitos. Entretanto, na maioria das vezes, as pessoas trans não são acompanhadas por endocrinologistas. Assim, farmacêuticos devem saber orientar sobre o uso desses hormônios para evitar complicações em saúde;

  • Homens trans que ainda têm útero, ovários ou seios correm o risco de câncer nesses órgãos. As mulheres trans correm o risco de desenvolver câncer de próstata, embora esse risco seja baixo. Os cânceres relacionados ao uso de hormônios são raros, mas o aconselhamento ainda é necessário;
  • Pessoas trans precisam ser aconselhadas sobre os riscos de injetar silicone industrial. Muitas pessoas trans usam injeções de silicone para melhorar sua aparência. A aplicação de silicone industrial é uma prática perigosa que pode levar a sérios problemas de saúde, pode ser tóxico, se mover pelo corpo e desfigura-lo;

  • Pessoas trans também podem ser usuárias de drogas como anfetaminas, maconha, ecstasy e cocaína. O uso dessas drogas tem sido associado a taxas mais altas de transmissão do HIV, por meio de decisões prejudicadas durante o sexo. As evidências sugerem que seu uso prolongado pode ter sérias consequências negativas para a saúde, por isso pessoas trans devem ser rastreadas quanto ao uso de substâncias e receber orientação apropriada e aconselhamento baseado em risco;

  • As pessoas trans têm taxas mais altas de depressão e ansiedade em comparação com outras. Esses problemas são muitas vezes piores para aqueles que não têm apoio social adequado ou que são incapazes de expressar sua identidade de gênero. Como resultado, adolescentes e adultos jovens têm um risco aumentado de suicídio. No entanto, serviços de saúde mental culturalmente sensíveis podem ajudar a prevenir e tratar esses problemas;

  • As pessoas trans devem ser rastreadas quanto a sinais e sintomas de depressão e ansiedade e devem procurar serviços de saúde mental apropriados, conforme necessário;

  • As pessoas trans correm risco de contrair infecções sexualmente transmissíveis (IST). Estas incluem infecções como gonorréia, clamídia, sífilis, HIV, hepatite A, B ou C, vírus do papiloma humano. O sexo seguro é fundamental para prevenir as ISTs.

  • Pessoas trans que são sexualmente ativas devem ser rotineiramente rastreadas para IST.

 

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