Leptospirose é problema de saúde pública negligenciado no Brasil

Estudo conduzido por farmacêuticos aponta prevalência da doença em homens de populações de baixa renda e pouca escolaridade

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Estudo conduzido por farmacêuticos aponta prevalência da doença em homens de populações de baixa renda e pouca escolaridade


Muito pouco se fala sobre esta doença infecciosa, que acomete homens e animais, mas a Leptospirose é considerada uma zoonose endêmica no Brasil. Isso porque, trata-se de um problema de saúde pública que se correlaciona com condições precárias de higiene e saneamento básico. Por isso, essa doença causada por bactérias patogênicas da espécie Leptospira interrogans, ocorre com mais frequência em populações de baixo poder aquisitivo e mais sujeitas a sofrerem inundações e desastres da natureza.

Isso porque a infecção pela Leptospirose ocorre geralmente pelo contato direto da pele com a urina de animais infectados. Quase todos os mamíferos podem carregar a bactéria, mas os ratos são os principais portadores dos casos de Leptospirose humana. Homens e mulheres são considerados hospedeiros acidentais, que sofrem infecções agudas e, por vezes, fatais. Os principais sintomas são febre, cefaléia, mialgia, anorexia, náuseas e vômitos.

Sâmia Andrade

Um estudo realizado por cinco farmacêuticos e uma estudante de Enfermagem, “Leptospirose no Brasil: uma abordagem em saúde coletiva”, recentemente publicado no portal científico Research, SocietyDevelopment, apontou que o impacto dessa doença na população ainda é subestimado. “Em razão de uma estreita relação com a pobreza, a doença tem pouca visibilidade, o que a torna marginalizada e desconhecida do público geral. Ela foi classificada na literatura internacional como uma doença tropical negligenciada”, afirma o Dr. Evaldo Hipólito de Oliveira (UFPI), um dos atores da pesquisa.

 

Evaldo Hipólito

 O estudo reuniu e analisou dados do Sistema Único de Saúde (SUS), no período de 2010 a 2019, acessados por meio do DataSUS. Os pesquisadores observaram que neste período foram notificados 37.703 casos confirmados de leptospirose no Brasil. Desse total, 79% (30.009) foram pacientes do sexo masculino e 20,5% (7.694), do sexo feminino. A faixa etária que mais sofre com a doença possui entre 20 e 39 anos de idade, com escolaridade incompleta entre a 5ª e a 8ª séries do ensino fundamental.

A farmacêutica Sâmia Andrade, que também participou do estudo, diz que a doença é mais prevalente nas regiões Sudeste e Sul, com maior incidência no Estado de São Paulo. Ela espera que a pesquisa possa incentivar a execução de serviços de vigilância sanitária. “Esses dados devem sensibilizar autoridades para a necessidade de capacitação de profissionais de saúde para realizarem diagnóstico, ainda na fase aguda, e notificação dos casos confirmados para um melhor acompanhamento pelos agentes de saúde pública. Além da execução de projetos que levem educação em saúde para as populações mais vulneráveis”.

Também participaram desse estudo, os farmacêuticos Elison Costa Holanda (UFPI), Plínio Robson Cavalcante Costa (Facimp), Rodrigo Luís Taminato (UFG) e Denise Alves Santos, graduanda em Enfermagem (Universidade Ceuma).